quinta-feira, 22 de julho de 2010

QUEIMA DE ARQUIVO? - do Jornal Pequeno

http://www.jornalpequeno.com.br/2010/7/22/presidiario-e-morto-com-seis-tiros-dentro-do-quarto-onde-morava-125407.htm



Vítima denunciou a existência de uma suposta organização criminosa dentro do Sistema Penitenciário da capital

POR JULLY CAMILO e
WELLINGTON RABELLO

O presidiário Marco Aurélio Paixão da Silva, 36 anos, conhecido como Matosão, foi morto por volta das 6h30 de ontem quando estava dentro do quarto onde morava, na Rua Marly Sarney, n° 92, na Vila Ivar Saldanha. Matosão foi atingido por seis disparos, sendo dois na cabeça e quatro no tórax, e existe a suspeita de ele ter sido vítima de uma queima de arquivo, pois há 15 dias ele denunciou a existência de uma suposta organização criminosa dentro do Sistema Penitenciário de São Luís, comandada pelo secretário adjunto de Administração Penitenciária, Carlos James Moreira da Silva.

De acordo com a mulher de Matosão, Ângela Almeida, o casal estava dormindo com a filha de apenas um ano e quatro meses quando tiveram o quarto onde moravam, num conjunto de quitinetes, invadido por dois homens desconhecidos e que começaram a atirar no presidiário. Segundo ela, os autores do crime teriam chegado ao local em uma motocicleta como se quisessem alugar um quarto e foram atendidos pelo filho da proprietária, que foi mostrar os imóveis para a dupla, mas foi dominado no corredor e ameaçado com uma arma.

De acordo com Ângela, os acusados bateram na porta e, como ela não abriu, eles a arrombaram e entraram. Ela disse que Matosão ainda chegou a se esconder atrás da porta, mas foi baleado sem chance de defesa. “Na tentativa de evitar que matassem meu marido, ainda me meti no meio dele e dos criminosos. Acredito que eles só não me mataram porque eu estava com a minha filha nos braços, mas o homem moreno ainda olhou para mim de um jeito como se quisesse atirar”, contou Ângela.

A mulher de Matosão informou que seu marido recebia constantes ameaças e que tinha deixado o tráfico por causa de sua família, estando inclusive trabalhando com um irmão dele em um restaurante. Ângela disse que já estavam de mudança devido à situação de risco em que viviam, tudo porque a vítima teria denunciado irregularidades dentro da penitenciária, envolvendo mortes, torturas, tráfico de drogas e corrupção de agentes, com o conhecimento da própria administração do Sistema Penitenciário.

Matosão havia ficado preso por três anos e quatro meses, acusado de tráfico de drogas, mas estava na condicional fazia duas semanas. Marco Aurélio morreu de bruços em cima de uma cama. Ele deixou a mulher e três filhos.

Ainda na tarde de ontem Ângela foi ao 3° Distrito Policial, no Bairro do Radional, prestar depoimentos ao delegado Sebastião Anacleto. Ela foi à delegacia escoltada por policiais civis da Superintendência de Polícia Civil da Capital (SPCC), pelo fato de também temer por sua vida.

Marcado para morrer – Para o advogado da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), Luís Antônio Pedrosa, a morte de Matosão já estava anunciada desde o momento em que ele decidiu fazer a denúncia da existência de uma organização criminosa dentro do Sistema Penitenciário, há 15 dias. Segundo Pedrosa, o presidiário teria denunciado que todos os homicídios ocorridos dentro dos presídios foram encomendados pela suposta organização, que teria em seu comando o próprio secretário adjunto da Administração Penitenciária, Carlos James Moreira. “Nos depoimentos prestados por Marco Aurélio ele disse que as vítimas eram pessoas que não colaboravam com o tráfico de drogas dentro do sistema. E que até policiais federais estariam envolvidos, principalmente no tocante ao tráfico de armas”, revelou o advogado.


Outras denúncias feitas por Matosão afirmam que existem detentos que não cumprem suas penas, pois pagariam para os agentes a fim de ficarem em liberdade para conseguir o dinheiro por meio do tráfico de drogas. Antônio Pedrosa disse que a vítima teria dito que foi torturado dentro da penitenciária pelo próprio Carlos James, e que somente após este ter sido nomeado secretário é que os extermínios dentro dos presídios se intensificaram, pois ele teria colocado pessoas de sua confiança em pontos de comando dentro do sistema. “Além de Carlos James, Marco Aurélio também cita outros nomes em seus depoimentos, como o de Eliezer, que já foi diretor da Casa de Detenção (Cadet) e saiu do cargo após ser envolvido em casos de torturas. Hoje, Eliezer é assessor do secretário adjunto”, informou.

De acordo com Pedrosa, após fazer as denúncias Matosão disse que passou a ser ameaçado, tendo percebido que pessoas o seguiam dentro de carros do Sistema Penitenciário. “Ele só denunciou por temer por sua morte. E esperava que o Sistema de Segurança o protegesse o que não aconteceu”, disse o advogado.

Sobre o programa de proteção a testemunhas ao qual Matosão deveria ser inserido ainda nesta semana, Pedrosa esclareceu que para isso acontecer era necessário uma triagem para avaliar o perfil psicológico e econômico do candidato, a fim de determinar em que classe social ele seria colocado. Fora isso, segundo o advogado, ainda tinha o fato de a vítima ainda estar cumprindo pena, situação que só foi revolvida no último dia 13 com a decretação de sua condicional.

Durante coletiva na tarde de ontem, na sede da SMDH, foi informado ainda que o ouvidor da Segurança Pública, José de Ribamar de Araújo e Silva, também está sendo ameaçado por ele ter dado proteção para Matosão. Este fato inclusive já teria sido comunicado para a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.

Foi dito ainda que a viúva de Matosão irá ajudar na confecção de um retrato falado dos autores do homicídio, tendo sido pedido à Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP) escolta para Ângela Almeida; o que, segundo Pedrosa, não teve resposta positiva. Segundo o advogado, a proteção para ela só foi conseguida por meio de contatos pessoais com os delegados Sebastião Uchôa e Marcos Affonso Júnior, da SPCC e Superintendência Estadual de Investigações Criminais (Seic), respectivamente, que estão empenhados para a elucidação do crime. Antônio Pedrosa disse que o Ministério Público e a Polícia Federal estão apurando as denúncias feitas por Matosão.

Carlos James – A redação do Jornal Pequeno manteve contato com o secretário adjunto Carlos James e ele disse que só irá se pronunciar após a conclusão de uma investigação feita pela SSP, quando terá em suas mãos as provas de sua inocência. Carlos James aproveitou para dizer que está no Sistema Penitenciário há 22 anos, já passando por vários cargos, mas que as entidades estão dando mais crédito para o que foi dito por Matosão.

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