terça-feira, 6 de julho de 2010

Eleições 2010. Verticalismo e pragmatismo

ter, 06/07/2010 - 14:01 — Cesar Sanson


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(5'42'' / 1.31 Mb) - O mapa das últimas cinco eleições presidenciais mostra que é impossível chegar ao Planalto sem as máquinas político-partidárias que controlam os votos dos grotões e das periferias das grandes metrópoles.

É essa constatação que levou os candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) a abraçar o pragmatismo e buscar aliados mal vistos pela opinião pública e por seus próprios partidos. PT e PSDB sedentos por alianças que aumentem seu cacife eleitoral, não hesitam em passar por cima dos princípios partidários e, pior ainda, humilhar e constranger instâncias regionais, locais e militantes.

A equação formulada pelos partidos é simples: o caminho à vitória presidencial exige um preço a ser pago. Os sacrifícios regionais e locais são necessários para uma conquista maior, o poder central, através do qual todas as renúncias realizadas serão redimidas uma vez que com o poder nas mãos, o projeto maior poderá ser implementado. Nessa trajetória denominada de estratégia eleitoral, o particular tem submeter-se ao geral e a conjuntura política local precisa ser modelada e ajustada à conjuntura nacional. A estratégia do PT, por exemplo, é assim definida por José Genoíno: "Estamos fazendo tudo, o casamento com o PMDB, em nome do projeto nacional".

Esse processo de verticalização torna os partidos "estruturas burocráticas de tipo empresarial. Mas do tipo empresarial tradicional, ao estilo taylorista em que a cúpula pensa e planeja e os filiados fazem e dão o sangue pela causa", comenta o sociólogo Rudá Ricci.

Essa estratégia eleitoral desde cima cria constrangimentos em todos os partidos, porém faz-se sentir de forma mais intensa no Partido dos Trabalhadores (PT) que nasceu contestando os métodos políticos autoritários e que sempre se gabou de praticar a democracia interna. Os casos do Maranhão e de Minas Gerais são emblemáticos e põem por terra definitivamente os argumentos daqueles que viam no PT rudimentos de uma vida partidária diferenciada.

Os casos do Maranhão e Minas em que as secções regionais do partido foram impelidas ao apoio aos candidatos do PMDB, Roseana Sarney e Hélio Costa, revelam o tamanho do sacrifício que o partido aceitou submeter-se para ter o apoio do PMDB, por outro lado, os casos testemunham a regra do pragmatismo como método em detrimento do conteúdo programático.

Registre-se que no caso mineiro, a "imposição" do acordo nacional foi bem digerida pela secção regional do partido. Houve uma disputa interna que foi "liquidada" pelas prévias internas. Patrus Ananias - da velha geração do PT - que defendia candidatura própria foi derrotado por Fernando Pimentel - defensor da estratégia do PT nacional e dos acordos com o PMDB.

Segundo Fernando Pimentel, "o PT novo é o PT que faz alianças e convive com a realidade política brasileira, buscando transformá-la, mas não ignorando e reagindo como se fosse um marciano chegando à Terra". Fernando Pimentel é da "nova geração" de políticos do PT, aqueles que constituem o neo-petismo: pragmáticos, agressivos no controle da máquina partidária e negociadores por excelência.

O pragmatismo orientado pela "estratégia eleitoral" assumiu toda a sua crueza no Maranhão. O apoio do PT a Roseana Sarney assumiu ares de escândalo porque o clã Sarney sempre se constituiu na antítese do partido. Sarney, oriundo da Velha República, carrega no DNA os métodos políticos da UDN - da sua fração vinculada às oligarquias rurais. Vingou na política nacional à sombra do autoritarismo. Apoiou prontamente o golpe militar, virou liderança da Arena, posteriormente do PDS e do PFL. Indicado pelos militares como vice de Tancredo Neves acabou assumindo a presidência. O clã Sarney beneficiado pelos militares, pelas articulações no judiciário e concessões de rádios e TV passou a controlar o Maranhão e está entre os responsáveis pela situação de miserabilidade do Estado.

Os casos das alianças do PT no Maranhão e em Minas são citados por Leonardo Boff. Diz ele: "Passei um fim de semana lendo pela enésima vez O Príncipe de Maquiavel no esforço de entender a atual política da Direção Nacional do PT. E aí encontrei as fontes que possivelmente estão inspirando o assim chamado 'novo PT', aquele que trocou o poder da vontade de transformar a realidade pela vontade de poder para compor-se com a realidade, notoriamente envenenada com o propósito de perpetuar-se no poder".

(*) Pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores e doutor em sociologia pela UFPR.

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