terça-feira, 13 de julho de 2010

Entrevista minha no jornal pequeno

PS:como sempre, alguns pequenos equívocos do jornalista.


Em março deste ano, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – seccional do Maranhão – entregou a autoridades do governo federal uma lista com nomes de detentos mortos em presídios e delegacias do Maranhão, desde 2008.
Envie para:
27 de junho de 2010 às 10:25
Índice Texto Anterior | Próximo Texto
A OAB-MA enviou relatório com os nomes de presos mortos nos presídios e delegacias do estado para o governo federal

As justificativas dadas são geralmente de que foram motivadas por acertos de contas ou desavenças entre detentos

POR GABRIELA SARAIVA

Em março deste ano, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) – seccional do Maranhão – entregou a autoridades do governo federal uma lista com nomes de detentos mortos em presídios e delegacias do Maranhão, desde 2008. O número, que antes era de 43 pessoas, agora, passados três meses, chega ao total de 47. Dados que preocupam, e levam a crer que algo precisa ser feito para reestruturar o sistema prisional no estado que vem fugindo ao controle dos responsáveis pela sua administração.

Para o advogado Luís Antônio Pedrosa, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Maranhão (OAB-MA) e membro da Sociedade Maranhense dos Direitos Humanos (SMDH), uma das causas para os alarmantes números está no fato de que o total de presos que entram no sistema é muito grande, sem que sejam abertas vagas para abrigar a nova demanda. Segundo Pedrosa, 120 presos ingressam mensalmente na triagem só em São Luís. “O pior de tudo é que não se tem nenhuma perspectiva de mudança para sua reestruturação”, afirmou.

Após a denúncia feita pela comissão da OAB-MA, o advogado explicou que duas Unidades Prisionais já foram interditadas, uma em Pinheiro e outra em Imperatriz; mas que ainda existe uma grande possibilidade de estourar, a qualquer momento, uma rebelião na Delegacia de Codó, diante à gravidade das péssimas condições em que vivem os detentos. “O Brasil é um dos países, em todo o mundo, onde mais se mata presos sob custódia, e o Maranhão não fica atrás dessa realidade. Mesmo diante de todas as recomendações das Organizações das Nações Unidas (ONU), as estatísticas só aumentam. Muitas das execuções são cometidas por policiais. Nós matamos mais do que países em época de guerra”, detalhou.

De acordo com Antônio Pedrosa, muitas das mortes, além de não serem investigadas como deveriam, poderiam ter sido evitadas pelo sistema, com uma simples transferência, uma vez que, quando se trata de desavenças entre detentos, o preso já teria comunicado o fato antes aos responsáveis pela unidade prisional. “Mortes que se dizem ser suicídio, geralmente apresentam características muito suspeitas e o sistema não às investiga. As mortes apresentam circunstâncias que geralmente não são explicadas de maneira satisfatória. As justificativas dadas pelo sistema são geralmente de que foram motivadas por acertos de contas, desavenças entre detentos, deixando de lado as possibilidades também de torturas feitas pelos próprios empregados do sistema. Muitas vezes são mortes que poderiam ter sido evitadas com uma simples transferência”, ressaltou.

Segundo dados da OAB-MA, em 2008 foram registradas 24 mortes; em 2009, 16; e neste ano, o número já chega a 7, tendo a última sido registrada na segunda-feira passada, 21, durante o banho de sol no Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário de Pedrinhas. A vítima foi o detento Rony Santos de Jesus, conhecido como “Mutombo”, 33 anos, assassinado com três chuçadas. As causas do crime ainda não foram esclarecidas, mas estão sendo investigadas pelo 12° Distrito Policial, do Bairro do Maracanã.

Somando todas as mortes, de 2008 até junho de 2010, foram registradas 47 ocorrências dentro do sistema prisional maranhense. Deste total, 11 ocorreram em unidades do interior do estado e 36 na capital. “Em minha opinião, o sistema prisional está falido. Se não houver abertura de vagas urgente, irão ocorrer rebeliões constantes. Foi investido muito para a ação de prender criminosos, se esquecendo de investir no sistema prisional. Se prende muito mais do que se solta. Para se ter uma idéia, 1% em média da população carcerária é de detentos que já terminaram de cumprir pena e ainda permanecem nas unidades. O sistema não consegue e não tem estrutura para liberar os presos, garantindo seus direitos”, argumentou Pedrosa.

Outro destaque feito pelo advogado é sobre a falta de investimentos também para os trabalhadores do sistema. São pessoas que exercem uma atividade de grande risco, mas não tem estrutura apropriada de trabalho, com baixos salários e que vivem insatisfeitas.

Denúncias – Segundo Luís Antônio Pedrosa, todos os dias chegam à SMDH dezenas de denúncias, envolvendo casos de torturas e ameaças no sistema prisional. Com elas em mãos, a instituição organiza as inspeções, acionando as autoridades competentes e, geralmente, nelas são constatadas irregularidades. Pedrosa explicou que não cabe à Sociedade fazer as investigações; mas, sim, apenas exigir das autoridades. “Muitas vezes, são pessoas do próprio sistema que fazem as denúncias, por não concordar com o que ocorre; em outras são familiares de detentos ameaçados com a situação”, revelou.

Pedrosa ainda explicou quais as medidas tomadas pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA e pela SMDH. No caso do ultimo relatório, em nível federal, as instituições acionaram o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Secretaria Federal de Direitos Humanos e a Secretaria Nacional de Segurança Pública. Em nível estadual, foram acionados a Ouvidoria de Polícia, o Ministério Público, o juiz das Execuções Penais e a Defensoria Pública.

Após a entrega do relatório ao CNJ, em março deste ano, Pedrosa contou que os processos estão tramitando com mais agilidade. Ele exemplificou a condenação dada aos policias envolvidos na morte do cantor, compositor e poeta Jeremias Pereira da Silva, o Gerô. Entretanto, ressaltou que casos envolvendo a ação abusiva do Serviço de Inteligência e o caso do Grupo de Operações Especiais (GOE), em Pinheiro, ainda não foram encerrados. “Em dezembro de 2009, foi constatado na Casa de Detenção seis presos com lesões provocadas por torturas. Dois deles não tinham nem mesmo condições de andar. Ficamos sabendo, por meio de denúncias, que foi o próprio diretor do presídio que, em uma atitude de tentar punir os autores da morte do detento identificado como Florisvaldo, ordenou a tortura de vários presos. Em Pinheiro, recebemos denúncias de que os presos foram torturados para darem fim a uma rebelião. Como não tem outra maneira para tentar controlar tamanho contingente, os trabalhadores do sistema abrem mão da ‘porrada’”, revelou.

Outro Lado – A equipe do Jornal Pequeno tentou ouvir o secretário adjunto de Administração Penitenciária, Carlos James Moreira, mas fomos encaminhados para uma conversa com o assessor jurídico, Ronald Ribeiro, que logo de início nos explicou que do relatório enviado pela OAB-MA para o CNJ, a atual gestão só pode responder pelas mortes ocorridas a partir de abril de 2009, época em que assumiu o cargo. Nesse sentido, Ronald Ribeiro contou que a Secretaria fez um levantamento a partir do início de sua gestão, em que ficou constatado que até o momento ocorreram somente 13 mortes no sistema prisional; sendo que quatro delas aconteceram em delegacias, ou seja, fora do sistema penitenciário. O assessor ressaltou ainda que no ano passado, durante sete meses, não ocorreu mortes dentro do sistema prisional. “O levantamento que fizemos condiz com o realizado pela OAB-MA, a ressalva que fazemos é que não podemos responder pelas mortes ocorridas na época da gestão passada”, declarou Ribeiro.

Fotos: G.FERREIRA E JÚNIOR FOICINHA


Rabecão do IML sai da CCPJ de Pedrinhas com o corpo de um detento


Raimundo Nonato, o “Malaca”, foi morto a golpes de chuço na CCPJ do Anil



Orleans Martins foi assassinado na CCPJ de Pedrinhas

Sobre as investigações a cerca das mortes, Ronald Ribeiro foi enfático ao dizer que essa não é uma responsabilidade do sistema penitenciário “Não cabe ao sistema apurar nenhuma morte, mas sim à Polícia Civil e ao Ministério Público”, rebateu. Já em relação às denúncias de torturas, ele explicou que todas elas são encaminhadas para a Corregedoria do Sistema Prisional, para a apuração, e para o juiz da Execução Penal, para o promotor da Execução Penal e para o Ministério Público. “Todos os casos de ameaças que chegam até o conhecimento da direção são imediatamente separados. Agora é difícil porque a unidade de Pedrinhas acolhe presos de todo o estado do Maranhão, o que dificulta o controle. O número de presos que entram é muito grande e o sistema não comporta esta demanda”, explicou.

Em relação aos presos que já cumpriram pena e ainda estão dentro das unidades, Ronad Ribeiro declarou que o sistema também não tem responsabilidade sobre isso. “O sistema não solta ninguém. Isso não compete a ele, e sim ao Judiciário. Nós trabalhamos dentro das nossas limitações. Não é nossa função questionar isso. Entretanto, concordo com a questão dos baixos salários e a falta de recursos que acabam desestimulando o trabalhador do Sistema Penitenciário, e ainda acrescentaria o baixo número de agentes para uma atividade de constate risco e tensão. É muito complicado. Além disso, o certo é que precisamos mesmo de novas unidades prisionais, urgente”, afirmou.

Relação dos presos mortos no sistema prisional

Genivaldo Joaquim de Lima – O Pernambuco

Morto em 6 de fevereiro de, na Delegacia de Polícia de Santa Quitéria

Antonio dos Reis Miranda

Morto em 10 de janeiro de 2008, no Centro de Ressocialização de Pedreiras

Peres de Jesus Torres

Morto em 21 de março de 2008, na Penitenciária de São Luís

Hamilton Lima Sousa Oliveira

Morto em 7 de abril de 2008, na Casa de Detenção de Pedrinhas

Ronaldo da Conceição Rodrigues de Oliveira

Morto em 7 de abril de 2008, na Casa de Detenção de Pedrinhas

Francisco das Chagas Alves de Sousa

Morto em 13 de abril de 2008, na Penitenciária de São Luís

Antônio José Carvalho Santos – o Neguinho

Morto em 17 de abril de 2008, na Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) do Anil

Edvaldo Silva Santos – o Isca

Morto em 12 de maio de 2008, no Presídio São Luís

Jocirley Vieira da Costa – o Cirley

Morto em 12 de maio de 2008, no Presídio São Luís

Laércio Oliveira – o Timon

Morto em 12 de maio de 2008, na Penitenciária de São Luís

Emanoel de Jesus Costa Luso – o Digé

Morto em 27 de maio de 2008, no Presídio São Luís

Hamilton Lima de Oliveira

Morto em 4 de julho de 2008, na Casa de Detenção de Pedrinhas

Daniel Lima Cunha – o Raposão

Morto em 2 de agosto de 2008, na CCPJ do Anil

Júlio César de Jesus Moreira – o Júnior Matador

Morto em 14 de agosto de 2008, no Centro de Detenção Provisória (CDP)

Ramiro Campos Castro

Morto em 14 de agosto de 2008, na Delegacia de São Bento

Ozaniel de Jesus Farias

Morto em 14 de agosto de 2008, na Delegacia de São Bento

José Francisco Simas da Silva Filho – o Jhemes

Morto em 23 de agosto de 2008, no CDP

João Batista Barros – o Gato Preto

Morto em 20 de setembro de 2008, no CDP

Edvaldo Sousa dos Santos – o Pelado

Morto em 27 de setembro de 2008, no CDP

Marlon Silva Martins

Morto em 27 de setembro de 2008, no Centro de Triagem de Pedrinhas

Valdir da Silva

Morto em 2 de outubro de 2008, na Delegacia Regional de Bacabal

Hamilton Machado Ferreira da Silva

Morto em 11 de novembro de 2008, na Delegacia de Araióses

Francisco Fernandes Silva Sousa

Morto em 11 de novembro de 2008, na Delegacia de Araióses

Washington Malaquias da Silva – o Caiquinha

Morto em 10 de dezembro de 2008, na Penitenciária de São Luís

Evanildo de Jesus Ribeiro – o Cadelo

Morto em 28 de janeiro de 2009, no CDP

Valdeir Rodrigues de Araujo Filho

Morto em 31 de janeiro de 2009, no CDP

Joacir Pereira Saraiva – o Caxias

Morto em 5 de fevereiro de 2009, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas

Marcos

Morto em 17 de fevereiro de 2009, na Casa de Detenção

Jhony Venuto Viégas

Morto em 12 de março de 2009, no CDP

Maycon Viégas Brás

Morto em 15 de março de 2009, na CCPJ de Pedrinhas

Erisvaldo Brito Santana

Morto em 28 de março de 2009, no CDP

Ucilas de Jesus Gamas Rosa – o Cilas

Morto em 17 de maio de 2009, na CCPJ de Pedrinhas

Valdene Ribeiro de Araújo

Morto em 26 de junho de 2009, na Delegacia de Bom Jardim

Jackson Oliveira da Silva

Morto em 15 de julho de 2009, na Delegacia de Presidente Dutra

Edvandes Dourado Costa

Morto em 6 de dezembro de 2009, na CCPJ de Pedrinhas

Eduardo Dourado Costa – o Negão

Morto em 6 de dezembro de 2009, na Penitenciária de Pedrinhas

Florisvaldo Ferreira Santana

Morto em 12 de dezembro de 2009, na Casa de Detenção

José Roberto da Conceição Pereira – o Nego Roxo

Morto em 15 de novembro de 2009, na Delegacia de Lago da Pedra

Cícero Viana da Silva

Morto em 21 de dezembro de 2009, na CCPJ de Imperatriz

Edson da Silva Corrêa

Morto em 12. De dezembro de 2009, na Casa de Detenção

Tiago S. S.

Morto em 4 de janeiro de 2010, morto no CJE/Maiobinha

Orleans Martins de Oliveira – o Nenzinho

Morto em 8 de fevereiro de 2010, na CCPJ de Pedrinhas

Alessandro Oliveira

Morto em 8 de fevereiro de 2010, no Complexo Penitenciário de Pedrinhas

Edmilson Gomes

Morto em março de 2010, no CDP

Raimundo Nonato Ribeiro – o Malaca

Morto em março de 2010, na CCPJ do Anil

Daniel Silva Azevedo – o Mamãezona

Morto na Penitenciária de Pedrinhas

Rony Santos de Jesus – o Mutombo

Morto em junho de 2010, no CDP

*Fonte: Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA

Nenhum comentário: