quarta-feira, 25 de março de 2020

UM FORMIDÁVEL TIRO NO PÉ


Ontem à noite (dia 25 de março) Bolsonaro fez um pronunciamento histórico em cadeias de rádio e TV.

Foi logo depois de uma reunião com os governadores estaduais do nordeste, onde se acreditou que a partir dali baixaria o tom, em relação as medidas para combater o coronavírus.

Foi trash, na legítma acepção inglesa da palavra (lixo).

O presidente da república atacou a imprensa novamente e as medidas dos governadores e prefeitos, alinhadas com a necessidade do isolamento social, para evitar a contaminação. Sobrou até para a rede globo e o médico Drauzio Varella.

O discurso de defesa da economia, mesmo que ao preço da vida de milhares de pessoas, foi jogado na cara da população brasileira, sem o menor constrangimento.

Após fala, Flávio e Eduardo montaram ofensiva nas redes, demonstrando claramente que o pronunciamento foi idealizado pelo chamado "gabinete do ódio", com o fim de atiçar a militância bolsonarista, em franca desmobilização nos últimos dias.

Olavo de Carvalho divulgou fake news dizendo que OMS "inventou" o coronavírus para "enlouquecer o mundo". Em um dos vídeos (deletado depois pelo youtube) o suposto filósofo afirma que o coronavírus nunca matou ninguém. Logo depois ele compartilhou no twitter um link de suposta entrevista em seu jornal com um médico – assinado com o pseudônimo Zhang Lin, que seria “infectologista que vive na China e por questões de segurança mantém a identidade sob sigilo”.

Na fake news, o médico ataca a OMS por “inventar uma pandemia que enlouqueceu o mundo”.

O pronunciamento de Bolsonaro desencadeou um panelaço em várias regiões do país, uma onda de crítica nas redes sociais e na mídia, além de pronunciamentos de adversários e de aliados, que já sinalizam rompimento político. Um formidável tiro no pé.


segunda-feira, 23 de março de 2020

A PANDEMIA VIRAL EXIGE ALTERNATIVAS PARA O BEM VIVER

Pesquisadores no mundo não se surpreendem com a chegada do novo coronavírus. Tal como o fenômeno da mudança climática, o rápido desmatamento das florestas também tem seus efeitos colaterais.
Desde a colonização européia desenvolveu-se uma ideologia de desenvolvimento predatória e hostil à natureza e aos povos originários. 
Até duas décadas atrás ainda se acreditava que florestas tropicais e ambientes naturais intactos, repletos de fauna exótica, eram uma ameaça ao ser humano,pois abrigavam  vírus e patógenos que causam  novas doenças, como Ebola, HIV e dengue.
O medo do desconhecido e o preconceito alimentaram uma visão de mundo de que os ecossistemas abrigam ameaças temíveis. Em menor escala, a conclusão de que a vegetação seria um ambiente sujo, que precisa ser higienizado pela supressão.
Hoje se sabe, pelo contrário, que é a destruição da biodiversidade que cria as condições para o surgimento de novos vírus e doenças. Atividades humanas como a construção de estradas, a mineração, a caça, a extração de madeira e a supressão de florestas para pastagens, sem dúvida, contribuem para emergência de epidemias, como a que estamos vivendo.
O tráfico de animais e a invasão das florestas liberam vírus nunca antes conhecidos, que habitavam seus hospedeiros naturais.Estima-se hoje que três quartos das doenças emergentes que nos infectam se originam em animais.
A rápida urbanização e o crescimento populacional aproximam os seres humanos de novas espécies de animais.
Hoje estudam como as mudanças no uso da terra aumentam esse risco. Venenos, insumos químicos habitats degradados criam as condições ideais para a ultrapassagem de hospedeiros. 
Nas espécies remanescentes os vírus buscam novas formas de sobrevivência, inclusive operando mutações. Esses patógenos não cessam de evoluir, a cada vacina descoberta.
Os ambientes preservados também são barreiras naturais contra essa interação nociva para os seres humanos, que altera o complexo ciclo de vida dos patógenos.
Pensar em saúde planetária e biossegurança global agora exige repensar o desenvolvimento, que sempre tratou a natureza como bem infinito. 
As pessoas agora temem o colapso da economia fundamentada em atividades predatórias de um determinado modelo de desenvolvimento (a palavra, por si só, quer dizer crescimento exponencial infinito). Nós deveríamos temer o êxito do desenvolvimento e definir a natureza finita como parte integral da humanidade.