sábado, 12 de junho de 2010

11 DE JUNHO, A TRAGÉDIA ANUNCIADA

Joãozinho Ribeiro(*)


Se fosse setembro, o dia 11 simbolizaria a data da tragédia americana, daquele atentado terrorista que ceifou centenas de vidas e explodiu o coração financeiro edificado de Wall Stret. Desta feita, em pleno mês da copa e dos festejos juninos, a tragédia tem cara brasileira e maranhense. Altos dirigentes do Partido dos Trabalhadores se reúnem em Brasília para decidir sobre o rumo das alianças do partido no Maranhão, e sobre a validação ou não do Encontro Estadual do partido, que decidiu pela coligação com o PSB/PC do B, e pelo nome do deputado federal Flávio Dino como pré-candidato ao Governo do estado.


Conforme o testemunho oral de quem esteve presente ao ato, o processo foi sumário e, logo, logo, tudo estava consumado. As disposições em contrário não precisaram ser revogadas; pelo contrário, sequer foram levadas em conta. A ordem era votar o quanto antes e transformar a vontade e a força bruta da cúpula da Direção Nacional do partido em resolução de uma página apenas, determinando que toda a história de homens e mulheres que construíram o PT no Maranhão fosse desconsiderada e a vontade dos Zés prevalecesse: Zé Dirceu, Zé Genoíno, Zé Dutra e do Zé Coronel – o Zé Sarney.


E assim foi escrita no livro de ata das resoluções partidárias esta página encardida e fétida, ferindo fundo a honra e a ética de muitos companheiros e companheiras que ainda sonhavam com alguma possibilidade da esperança não se curvar ao medo. Homens sem alma e sem escrúpulos nem precisaram tapar o nariz para ungir o nome da filha do oligarca – Roseana Sarney Murad – como candidata única da base aliada, de uma coligação reprovada pelo Encontro Estadual do partido, realizado nos dias 26 e 27 de março último.


Palavras duras do presidente nacional da sigla, o Zé Dutra, que ninguém estava ali reunido para discutir aspectos legais ou legítimos do Encontro Estadual do PT do Maranhão; que a questão era política, simplesmente, e assim deveria ser decidida; que os interesses nacionais estavam acima de qualquer outra questão; que a resolução deveria ser votada, e obedecida por todo o conjunto do partido.


Para bom entendedor: às favas com essa tal democracia interna e tudo que esta poderia representar para nós outros que continuamos acreditando piamente que ela existe.


Comentários de históricos militantes davam conta de que tudo havia sido previamente acertado entre o último coronel político brasileiro e o presidente de honra do PT; que o coronel havia implorado aos prantos que o seu último pedido fosse satisfeito: o PT apoiando o nome de sua filhinha mimada para o governo do Estado do Maranhão; estado que, nas palavras do outro Zé, o Dirceu, só precisava garantir os dois milhões de votos para a candidata a presidente da coligação PT/PMDB. O resto seria apenas um detalhe.


De tal lógica, só podemos deduzir que o resto somos nós, incluindo nesta contabilidade todo o povo maranhense, único e legítimo detentor destes dois milhões de votos, computados pela fria e calculista aritmética do Zé Dirceu.


A primeira sensação que tive quando soube do placar – 43 a 30 – foi a de quem acabou de levar um soco no estômago e ainda não conseguiu identificar o adversário. Ou seja, de onde partira o inesperado golpe, sem querer acreditar nos protagonistas do mesmo. Esta mesma sensação, mais tarde seria compartilhada pelo lendário companheiro Manoel da Conceição, fundador e 2º presidente da primeira Comissão Executiva do partido, no início dos anos 80 do século passado. Companheiro impedido de entrar na sala onde foi realizada a reunião da Direção Nacional do PT, e muito menos de ter assegurado o seu direito a voz.


Encontramo-nos no meio da tarde da última sexta-feira no Plenário Ulysses Guimarães, da Câmara dos Deputados, onde o deputado Domingos Dutra, em greve de fome, tal qual Stalingrado na 2ª Guerra Mundial, resistia ao cerco e ao bombardeio impiedoso das tropas nazistas de Hitler. Manoel da Conceição, Terezinha Fernandes, Moçota, Sílvio Bembém, Bira do Pindaré, Augusto Lobato, Ananias Neto, Colaço, Dutra de Caxias, Márcio Jerry e tantos outros – bravos e íntegros companheiros - todos atordoados pelo resultado da decisão tomada pelo Diretório Nacional, porém dispostos a não deixar que o pior dos mundos desabasse sobre o espírito coletivo de justiça e luta, que sempre serviu de cimento para a nossa coexistência fraterna.


Após a chegada do deputado Flávio Dino ao plenário, de muitas e seguidas entrevistas dele e do seu colega Domingos Dutra a vários veículos de comunicação nacional, denunciando o autoritarismo da Direção Nacional do PT, o clima de revolta e tristeza deu lugar a ponderações mais equilibradas e propostas de superação do quadro negativo e dos seus respectivos desdobramentos.


De concreto: 1) a manutenção inegociável da pré-candidatura Flávio Dino ao Governo do Maranhão; 2) a adesão do companheiro Manoel da Conceição à greve de fome do deputado Domingos Dutra, como símbolo de resistência ao desmonte da democracia interna do partido e afronta ao Estado Democrático de Direito; 3) a utilização da via judicial para obtenção de liminar visando o reconhecimento da legitimidade do Encontro Estadual; e 4) manutenção e ampliação de vários atos políticos no estado no final de semana, ratificando o apoio à pré-candidatura do deputado Flávio Dino ao Governo do Maranhão.


O resto será fruto da história escrita pelo próprio povo maranhense, e não somente um detalhe, “que os fortes, os bravos só pode exaltar”.


(*)Fundador do PT, membro da primeira Comissão Executiva Estadual do PT-MA

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