quarta-feira, 18 de julho de 2012

País fica inviável para novas siderúrgicas


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A notícia de desistência de construção de uma siderúrgica no Brasil pela chinesa Wuhan Iron & Steel, em parceria com o grupo EBX, agitou o mercado brasileiro ontem e acendeu uma luz amarela no país sobre sua competitividade para instalação de novos projetos de aço, em especial os voltados para exportação. O Brasil desponta como o país de maior custo de instalação de usinas siderúrgicas à base de minério de ferro e carvão, ficando longe de China, Índia e Rússia.

O projeto, de US$ 5 bilhões, em uma área do porto do Açu, no Norte do Estado Rio de Janeiro, que é operado pela LLX, teria perdido viabilidade econômica devido a custos elevados de logística, transporte ferroviário e fornecimento de carvão mineral à usina. Foi desenhado, conforme pré-acordo firmado em 2009 com Eike Batista, para produzir 5 milhões de toneladas por ano de placas (aço semi-acabado) destinadas à exportação.




Com os alto-fornos rodando a uma capacidade ociosa de 30% e o maior investimento do grupo alemão ThyssenKrupp, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) posta à venda por não dar retorno, investir na expansão do parque siderúrgico nacional vem se tornando um negócio caro e de risco. A usina da Thyssen, que custou cerca de US$ 8 bilhões (média de US$ 1.600 a tonelada), conforme dados de analistas, não tem perspectiva de gerar lucro para seu controlador antes de 2015.

Desde que entrou em operação, em 2010, a CSA só gerou prejuízos. Segundo publicou o Valor na semana passada, no ano fiscal 2010/2011, a empresa teve perda de R$ 7,97 bilhões. O grupo alemão fez um "write-off" de € 4 bilhões no investimento envolvendo a CSA e uma laminadora no Alabama, EUA, para tentar vender os dois ativos. O valor estimado para os dois ativos é de € 2,7 bilhões na conta do Citigroup.

Dos cinco projetos novos conhecidos no país - Wuhan, Ternium (ambos no porto do Açú), Pecém (Ceará), Alpa (Pará) e Ubu (Espírito Santo) -, apenas a Companhia Siderúrgica de Pecém, uma associação da Vale com as coreanas Posco e Dongkuk está saindo do papel. Entretanto, a um custo de instalação de US$ 1.700 a tonelada, dobro dos US$ 800 estimados cinco anos atrás, quando se tomou a decisão de fazer a usina. O investimento é de US$ 5 bilhões.

A Alpa, em Marabá, totalmente da Vale, está dependente da construção de infraestrutura logística - porto e via fluvial no rio Tocantins - pelos governos federal e estadual. Já o projeto de Ubu, também desenhado pela mineradora de ferro brasileira, ainda está à procura de um parceiro externo. No atual cenário de excesso de capacidade mundial de produção de aço, Europa fundada em crise, desaceleração da economia chinesa e EUA ainda saindo lentamente da crise de 2008, mais custos elevados do Brasil para novas usinas de aço, parece uma tarefa complicada.

Conforme dados discutidos por especialistas locais e internacionais do setor na semana passada em São Paulo, nenhum projeto de siderúrgica integrada no Brasil sai hoje por menos de US$ 1,7 mil a US$ 1,8 mil a tonelada. Na Índia, o valor fica em US$ 1 mil, enquanto na China, um ponto fora da curva, para baixo, - tem subsídios e incentivos do governo - fica em US$ 550. Estima-se que na Rússia, outro país detentor de jazidas de minério de ferro (considerado um fator de vantagem competitiva), esteja na mesma faixa do custo indiano.

Nesse portfólio de projetos do Brasil, os que correm mais risco de morrerem no papel são justamente os do Açu. O projeto da Wuhan teve o memorando de entendimentos assinado em 2009 e ainda está pendente da conclusão do estudo de viabilidade. Na LLX não se informa o estágio de desenvolvimento do negócio. A empresa de Eike não confirmou nem desmentiu, oficialmente, a desistência da siderúrgica chinesa. O Valor que a LLX não recebeu nenhum comunicado da Wuhan.

O projeto da Ternium teve as licenças ambientais prévia e de instalação concedidas pelo Inea cassadas pelo Ministério Publico do Rio de Janeiro (MPRJ) em abril. Uma fonte próxima do grupo Techint /Ternium disse que, dependendo dos entendimentos, o projeto pode ser retomado ou não. A decisão do grupo para ior adiante ficou mais complicada após comprar por R$ 5,1 bilhões 27% do capital votante da Usiminas no início do ano. Sua estratégia pode ganhar novo rumo diante do cenário mundial.

Segundo relatório do Credit Suisse, a indústria do aço no país perdeu competitividade depois da crise de 2008 devido à valorização do real frente ao dólar, dos altos custos de mão de obra e das elevadas taxas de juros, mais peso da carga tributária sobre a produção e sobre o investimento durante a obra, além de outros custos, com destaque para energia. No curto e médio prazos não são se vê expectativas promissoras as usinas brasileiras, dado o excesso de oferta de aço no mundo e os baixos preços do produto.

Estudo de consultoria Booz, encomendado em 2010, apontava carga tributária, custo de mão de obra, câmbio e tributação sobre investimento como fatores que colocam o Brasil no topo da lista de países de custo mais caro, comparado com Alemanha, Rússia, EUA, Turquia e China.

Mesmo com a valorização do dólar no Brasil, ainda há pouco espaço para aumento de preço do aço no mercado interno e de recuperação de margem de ganho para as siderúrgicas locais. A margem de ganho tem migrado para mineração, devido a alta das matérias-primas como carvão e minério de ferro. Na avaliação do Credit Suisse, as empresas têm de trabalhar para retomar a competitividade na reforma da lei trabalhista e tributária, aumento da eficiência das usinas (investimentos em autosuficiência de matéria-prima e energia), entre outras medidas.

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