Os desdobramentos da investigação do caso Décio continuam confirmando minhas suspeitas, que também são extensivas às torcidas do Flamengo e à do Corinthians.
A medida em que os depoimentos são divulgados, temos a sensação de que a polícia está desenvolvendo um percurso investigativo digno de elogios. A sequência de depoimentos denuncia que há uma linha de investigação que precisa ser levada até o seu final, indepedentemente de quem possa atingir. Esse é o problema, não nos iludamos.
Não fiquei surpreso com os achados e nem com os nomes que vão sendo citados, à medida em que a investigação avança. O cerco está se fechando e existe uma extraordinária coerência lógica que vincula os nomes de todos os suspeitos e referidos nos depoimentos.
Em primeiro lugar, todos os presos mantêm ligações ou com Júnior Bolinha ou com Gláucio. O mesmo se pode dizer dos nomes referidos nos depoimentos. Essa ligações não se justificam pelo acaso. Não se matém ligações com pessoas com envolvimento criminoso notório por acaso.
O bom da história é que a o homicídio denuncia uma infinidade de crimes correlacionados. As cartas já estão na mesa, a estas alturas. Do conjunto da obra, já se pode afirmar:
a) que o jornalismo de Décio não pode ser santificado, embora nada justifique o crime;
b) que os amigos mais virulentos de Décio estranhamente figuram no ciclo de citações que denunciam seu relacionamento íntimo com os algozes do jornalista;
c) que os agiotas mantinham um círculo de relações suspeitas com gente da alta corte, incluindo aqui com membros do Poder Judiciário;
d) que o assassinato da garota de programa, em Teresina, vincula, estranhamente, os interesses de políticos e empresários, que estão presentes também no assassinato de Décio.
e) que a presença de políticos, no âmbito dos interesses do grupo criminoso, indica a necessidade de um aprofundamento das investigações, que pressupõe um respaldo diferenciado ao Sistema de Segurança Pública. A dúvida aqui é se esse respaldo necessário faltará quando as investigações começarem a chegar nas figuras proeminentes do esquema.
Analisando com mais vagar os depoimentos compreendemos melhor porque Décio foi atraído com tanta facilidade para o local do crime. Foram seus amigos que exerceram um papel importante nesta empreitada, cumprindo a tarefa de trazê-lo ao cadafalso. Um deles, candidato a vereador, estava acompanhado de um dos acusados no enterro do jornalista e mediou encontros com o empresário Gláucio.Outro, simplesmente aparece no inquérito como assessor de um Secretário de Estado do Governo Roseana. Muitos dos que estão sendo citados no inquérito assumiram a defesa do jornalismo de Décio com impressionante cinismo, mesmo sabendo dos riscos que o jornalista corria, decorrente de uma prática subterrânea que o Estado inteiro já tinha conhecimento. Essas pessoas, se não participaram do crime, assim espero, amargarão até o fim de seus dias uma culpa na consciência: assistiram Décio caminhar para a morte e nada fizeram para evitar. Talvez esse o motivo de tanta fúria cínica na defesa desse modelo de jornalismo suicida, oportunista e antiético - uma forma de despiste.
Conforme a participação que tiveram no crime, essas pessoas, incluindo às do círculo pseudo-jornalístico, não devem temer agora apenas a força do inquérito e a mão forte da justiça, mas também e principalmente o próprio esquema criminoso, do qual sabem mais do que recomenda a segurança de suas vidas.
Por enquanto, relembro quantos casos levaram às prisões pessoas simples do povo, por se verem citadas por outros investigados em inquéritos criminais. Aqui, em que pese o esforço dos delegados que investigam esse caso, não se fala sequer em cassação de mandato, quanto mais em prisão preventiva.
É essa institucionalidade oligárquica que não inspira confiança.
Obs: atualizado em 07/07/2012.
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