quinta-feira, 30 de junho de 2011

FORTALEZA INVENCÍVEL DO MARANHÃO

"Fortaleza Invencível desde o Século XIX. Competidor do Povo": Inscrições numa camiseta do Boi da Madre Deus.

Lembro de uma apresentação do Boi da Maioba, quando tinha ainda como amo o festejado João Chiador. Na época, a apresentação ocorria no Arraial do Ipem/Renascença.

Em meio à apresentação, Chiador detectou o som produzido por um instrumento diferente - uma caixa - muito usada nos desfiles militares. Seu proprietário - certamente um dos adeptos das quadrilhas genéricas que infestam os arraiais - entendeu de "contribuir" com a Maioba, disparando ra-tá-tás, do meio do povo, que assistia o boi.

Ocultar o instrumento não o fez escapar dos ouvidos sensíveis do maestro do povo. Chiador mandou parar tudo, até que o intruso fizesse calar seu instrumento inadequado ao momento. Alguns não entenderam a zanga daquele poeta do povo.

Os bois de matracas são realmente fortalezas invencíveis, apesar do assédio das inovações desagregadoras. O potencial de resistência dessa manifestação cultural empolga e apaixona. Na entrada do dia 29, no Largo de São Pedro, presenciamos idosas e crianças, na cadência embriagante dos pandeirões. Ainda há esperança.

Grupos tradicionais que se alegram com seus brincantes oriundos da comunidade, e deles têm um verdadeiro orgulho.  Misturam a festa com a reverência ao santo, implicando a crença religiosa na defesa da cultura dos mais humildes.

Na Praça Maria Aragão, minutos antes, fugi do "contrário". Uma apresentação esquisita do Boi de Morros. Instrumentos de sopro de Parentis. Índias e índios sem vínculo com a comunidade, numa apresentação digna de lamento, apontando para a morte da tradição.

Não satisfeitos, agora buscam dançantes "bombados", muito provavelmente inflados à custa de doses maciças de anabolizantes. A hipertrofia dos músculos impedia maior amplitude dos movimentos, típicos da dança do boi. Os chamados "guerreiros" evoluíam como robôs enferrujados, sob o olhar crédulo de uma platéia em busca de identidade. E ainda ouvi, já longe dali, o mugido artificial de um boi imaginário, de arrepiar os cabelos: cruz, credo.

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