domingo, 26 de junho de 2011

Festejo da Tradição?

Participar de arraiais em São Luís atualmente não deixa de provocar certas perplexidades. Afinal, a festa junina afirma a identidade de um povo ou isso não é necessario? Será que o povo maranhense sabe qual a sua verdadeira identidade?

Eu sempre vi a festa junina do meu Estado como um momento de afirmação da nossa identidade. Ela sempre foi diferente das demais festas juninas do Nordeste, embora também tradicionais. Deixo de mencionar Parentins, no Norte, porque aquilo nunca foi tradição. É apenas um espetáculo para gerar lucro.

O Maranhão tem uma tradição peculiar, em matéria de festas juninas. Nela está presente não apenas o elemento religioso, mas, principalmente as manifestações culturais.

Ocorre que parece que estas manifestações tradicionais não estão sendo apreciadas pelos organizadores dos arraiais, com a cumplicidade do Poder Público.

A tradição cede espaço paulatino para um conjunto de manifestações oportunistas, que não dizem respeito a nenhuma identidade. Elas são uma espécie de aperitivo das programações, justamente nos horários onde as crianças estão presentes. Os bois tradicionais chegam no avançado da madrugada, quando um perfil de público já foi embora.

Amplos setores das classes médias preferem orquestras, com jovens malhados e índias sensuais. Algumas pessoas destas classes sequer tiveram oportunidade de ver os bois de matraca.

Enquanto isso, espalham-se como uma febre, talvez por falta de opção, quadrilhas e danças esquizofrênicas, que nada  nossa cultura tradicional. Não sei de que cabeça iluminada vieram, mas estão aí - a título de ameaça - danças portuguesas e danças do boiadeiro. Como se não bastasse a degeneração do sotaque de orquestra, que se aproxima sem rubor de Parentins há algum tempo.

A tradição é jogada para o final das programações, onde o povo pobre emerge com desenvoltura. São catraieiros, feirantes, pescadores e trabalhadores rurais, incorporados em caboclos de pena e de fita, catirinas, pais franciscos e índias da cor do povo.

Jovens amalucados dançando música country, numa perna só, lembram sacis, diria meu filho. Ouvíamos espantantados o inglês de um sistema de som, enquanto o "grupo" fazia uma apresentação bastante oportuna, se estivéssemos em alguma festa de rodeio norte-americano. Acredito que a juventude quer participar de qualquer coisa, mas como não se lhes oferecesse a tradição, caem na malha miúda dos oportunistas de toda espécie. O fato é que ninguém protesta. E até aplaudem a porcaria.

Enquanto as maiorias lutam pela tradição, são escanteadas das programações oficiais, sorrateiramente. Se o dia de São Marçal fosse prestigiado pelas elites, seria feriado. Todos correriam para aquele corredor, para festejar uma identidade desejada e afirmada por todos. No João Paulo, encontram-se manifestações tradicionais da cultura - ou seja, o povo pobre.

A elite esforça-se para cria suas próprias identidades, para desvencilhar-se da herança genética que a perturba. Preferem a maquiagem impecável das mocinhas bem criadas, que desfilam nos arrraiais como se estivessem num concurso de miss.

No João Paulo, o suor do povo e o cheiro de cachaça lembram o preto fugido e o índio insolente. São os desdentados, na linguagem de Roberto Amaral, então diretor-geral brasileiro da Alcântara Cyclone Space, que invadiu o território quilombola em Alcântara - uma alusão ilustrativa de como as elites vêem a cultura tradicional.

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