http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/67476-upps-embrulham-uma-cidade-em-que-mercado-ilegal-continua-ativo.shtml
ESPECIAL PARA A FOLHA
A observância de padrões diferenciados de criminalidade violenta em determinadas áreas do Rio e sua região metropolitana requer reflexão.
Uma "explicação" usual é que isso decorre da migração de criminosos das áreas onde funcionam UPPs. Será apenas isso?
É certo que se logrou afugentar criminosos de áreas a serem pacificadas.
No corre-corre e arrastar de chinelos, a poeira levantada parece ter encoberto algumas obviedades.
Que eventuais criminosos iriam para outras regiões, a mais evidente delas. Outra, mais sutil, é que ali se consolidava uma nova forma de serviço policial.
Em outras palavras, as UPPs se somaram ao policiamento "do asfalto" e ao "tiro-porrada-e-bomba". Três modalidades para públicos representados pelo Estado enquanto distintos, do ponto de vista dos direitos civis. É neste contexto que se desenvolvem os mercados ilegais.
A transformação da cidade numa commodity introduziu mudanças nestes mercados sensíveis. Idealizado como um bem para a indústria internacional do entretenimento, o Rio passou a ser representado enquanto constituído de territórios de consumo delimitados, organizados e protegidos.
A "pacificação" é sua "embalagem". Em seu interior, porém, o que está vivo se move.
Os interesses dos patrocinadores colidiram com os dos serviços ilícitos. Foi preciso redefinir a territorialidade deste mercado. Portanto, afirmar que as mudanças resultam da migração de criminosos é dizer pouco.
No embalo da pacificação, incrementou-se o exercício de práticas repressivas em outras regiões e pouco se viu de políticas sociais, de uma forma mais geral. Falava-se em dirigir às favelas pacificadas um tratamento cidadão.
No entanto, é mais fácil destruir que construir. A vida segue, e com ela o mercado de ilegalismos. Este reabre cotidianamente, como as feiras livres. O que muda, como convém, é sua localização e, vez por outra, os comerciantes.
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