terça-feira, 11 de setembro de 2012

Carta do CIMI, por ocasião dos 400 anos

Por mais 400 anos com justiça e humanidade!


Hoje se comemora a chegada dos colonizadores na ilha de Upaon Açu. A festa oficial destaca a fundação da cidade e exalta o ‘heroísmo’ dos colonizadores com festas, medalhas e obras faraônicas. Na história cotidiana dos ‘colonizados’, filas grandiosas para atendimento no SUS, a juventude negra sendo assassinada na grande metrópole, no bairro do Vinhais Velho se retoma a história, a memória e a resistência da nossa terra e de nossa gente diante da continuidade da neocolonização com a Via Expressa. No campo, os quilombolas, indígenas e trabalhadores sem terra continuam a manter viva a esperança de possuir a terra, mesmo com a desumanidade dos neocolonizadores.

Na comemoração oficial pouca ou nenhuma menção aos povos nativos da Ilha de Upaon Açu que aqui viviam. Calculava-se que 250.000 indígenas viviam nessas terras. O processo de extermínio tem registro já em 1616, quando 30 índios Tupinambá são assassinados em sua aldeia em Alcântara (antiga Tapuitapeva), como exemplo para que outros índios não se rebelassem, e em 1618, a repressão contra a rebelião dos Tupinambá de Alcântara e Cumã (perto de Guimarães), que resultou no assassinato de 30.000 índios; chegando até os dias atuais, quando a líder indígena Ana Amélia Guajajara, de 52 anos, foi executada por pistoleiros na frente de sua família, no dia 28 de abril de 2012.

Dentre os povos nativos que foram extintos ou forçados a esconder sua identidade estavam os Tupinambá, os Barbado, os Sakamekrã, os Amanajó, os Kriê, os Uruati, os Tremembé, os Kenkatejê, os Guanaué, os Araiose, os Gamella, os Pobzé, os Kapiekrã e outros.

Mas a colonização sangrenta e desigual nestas terras teve muitos guerreiros, que bravamente lutaram em defesa de suas terras, sua cultura, sua vida, fazendo alianças e reconstruindo suas identidades com a população negra escrava que também se refugiava de seus donos.

Nossa pluralidade hoje é também formada por 09 povos indígenas: os Tenetehara ou Guajajara, Awá-Guajá, Ka’apor, Ramkokamekra-Canela e Apaniekrá-Canela, Krikati, Pukobyê-Gavião, Krepum Katejê e Krenjê. Esses povos continuam a existir e a resistir e suas populações recuperam-se de todas as formas de violência que trouxeram os colonizadores, sendo calculada hoje em 35. 272 pessoas (IBGE, 2010).

Alegra-nos saber que várias famílias do povo Krenjê, provavelmente os Kriê citados acima, teve sua etnia reconhecida e sua próxima conquista é pela terra. Da mesma forma, os grupos de Awá-Guajá isolados, que depois de ter sofrido um ataque de madeireiros, foram recentemente avistados em grande número, vivendo ainda de forma pré-colonizadora no que ainda resta da Amazônia Maranhense.

Hoje é dia de solidarizar-se com os moradores do Vinhais Velho na luta e na resistência pela nossa memória e nossa história.



Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão

São Luís/MA, 8 de setembro de 2012



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