terça-feira, 19 de outubro de 2010

Direita e esquerda


CARLOS HEITOR CONY

Não ser da direita nem da esquerda, nem mesmo do centro, tem suas vantagens, apesar da solidão e dos ataques que se recebe de todos os lados. Assumindo atitudes e pensamentos ora da direita, ora da esquerda, ora do centro, por isso ou por aquilo, conhece-se cada lado ideológico, político e comportamental, suas contradições, seus oportunismos e, frequentes vezes, sua idiotice.
A regra fundamental de cada grupo é a hegemonia da verdade, que por si só é problemática e móvel, como aquela dona cantada pelo duque na ópera de Verdi: "La donna è mobile".
Outra regra paralela em seu fundamentalismo, decorrente da primeira, é a demonização do contrário. Em casos extremados, a demonização obriga o partidário da esquerda ou da direita a mudar de calçada quando vê o "outro", a fim de evitar a lepra, o contágio letal e definitivo: "Foi visto com fulano, logo é suspeito".
Mas a vantagem é o conhecimento dos podres ideológicos e pessoais de cada grupo. Como são feitas as imagens e biografias dos aliados e inimigos, valendo tudo e nada acrescentando na avaliação isenta de cada fato ou de cada pessoa.
Curioso é que muitas vezes os lados se invertem. Causas da esquerda transformam-se em causas de direita e vice-versa. As autocríticas são mais lamentáveis do que as justificativas. Neste particular, a esquerda ganha de longe. Suas autocríticas, apesar de espalhafatosas, nada ensinam. Com o mesmo entusiasmo embarca em canoas furadas, sabendo que, depois do naufrágio, fará nova autocrítica.
A direita não faz autocrítica porque é conservadora, nem sempre se atribui o monopólio da verdade, mas do hábito, no deixa-ficar.
Pra que mudar se desde as cavernas tudo está certo?

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