terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Quem combinou que é proibido falar de agiotas?

Li hoje uma matéria no Jornal O Imparcial, falando a meu respeito. Alguém me avisou, fui procurar o jornal, em cima da mesa de alguém.
Surpresa. O jornal dizia que eu poderia ter problemas com a justiça, porque disse que a hegemonia política instaurada no Maranhão tinha relações com a agiotagem. Pareceu um aviso. Aquele negócio que uma turma da pesada gosta de fazer: "cuidado, seu limite é até aqui". Li e reli o que disse e não consegui encontrar onde iria ter problemas com a justiça. Pensei até que estavam achando que eu tinha problemas com agiotas.
No Maranhão não funciona assim -  parece que a matéria queria dizer para o incauto leitor. Não são os agiotas que devem ter problemas com a justiça, mas aquele que ousar falar deles.O blogue do "Marrapá", reproduziu a polêmica artificial (veja aqui), com uma chamada mais ameaçadora ainda: "Na mira da justiça". Vejam só. Eu que não ando tomando drinques com agiotas, estou na mira da justiça e ainda poderei responder por calúnia e difamação, diz ali um advogado que milita na área, defendendo exemplares da tradicional política no Maranhão.
Penso comigo: pode ser que haja um pacto, já que os dois lados estão bem representados na lista de prefeitos envolvidos com agiotas, divulgada pela polícia federal (para lembrar). Verdade, quem poderia introduzir esse debate nas eleições? Somente quem não se meteu na encrenca, óbvio.
Explico para mim mesmo: a campanha ainda não começou, mas existem regras de jogo implícitas, estabelecidas por setores da mídia local, dos grupos políticos e de seus interesses econômicos. Talvez eu não soubesse dessa regra, né? Teve até uma pré-candidata que tentou me defender, dizendo que teria cometido um "ato falho". Ato falho? Como assim?
Depois de todo o escândalo, ninguém pode mais falar no assunto, porque, na melhor das hipóteses, é ato falho?
Quem é do sistema e tem certeza de que vai ser candidato, já tem seus esquemas de financiamento. Portanto, já criou para si, algumas regras do discurso. Sabe quem e o quê pode atacar. Geralmente essas pessoas pertencem a grupos políticos e grupos de interesses econômicos. Sem isso, a campanha é pobre, e as possibilidades de êxito muito restritas.
Existem diversos tipos de candidatos do sistema. Eles podem ser de oposição ou de situação, porque o esquema financia os dois lados. Por isso, nos dois lados se gasta muito, durante a campanha. Os programas eleitorais são caros, porque são elaborados por grandes empresas de marketing político. A campanha é cara, porque é necessário aliciar lideranças políticas ou até  mesmo comprar votos; bancar um sem número de despesas, geralmente para ludibriar o direito de livre escolha do eleitor.
O resultado mais visível desse modelo da campanha do sistema é o caixa dois e o financiamento por agiotas. Já presenciamos escândalos nacionais, envolvendo a polarização PT-PSDB, envolvida numa modalidade de caixa dois: o mensalão. O esquema dos agiotas estourou no Maranhão, durante as investigações do assassinato do jornalista Décio Sá.
O esquema consiste em emprestar dinheiro, com taxa de juro elevada e sem autorização legal e compreende algumas variações em torno da mesma estratégia criminosa. Esse tipo de financiamento de campanha também é considerado caixa dois, porque não é declarado à justiça eleitoral. Aqui no Maranhão, as investigações revelaram pelos menos quatro quadrilhas de agiotas, em franca atuação.
Por causa dessas e outras é que o Maranhão é o campeão de ações de improbidade administrativa contra gestores.
Alguém poderia dizer, "mas doutor, nem todo mundo tem relações com agiotas" (e aqui no Maranhão muita gente, incluindo jornalistas, tem problema com interpretação de texto), "não se pode generalizar". Mas onde foi que generalizei? Se a polícia tivesse falado em dois ou três prefeitos, até duvidaria em fazer uma análise de contaminação sistêmica. Mas foram simplesmente 41. Lembra?
Então, a quem interessa interditar o debate?

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