sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O julgamento midiático


Interessante observar o comportamento da mídia local, quando a juíza auxiliar da 1ª Vara Criminal, Lewman Silva, determinou ontem a soltura de Sansão dos Santos Salles e Julian Jeferson Sousa da Silva, acusados de participação nos ataques a ônibus no último dia 03 de janeiro, que resultaram na morte da menina Ana Clara Souza e feriu quatro pessoas.

Sansão e Julian foram presos logo depois dos atentados, após investigação da polícia que prendeu mais 14 pessoas apontadas como co-autores dos crimes.

Além dos ataques a ônibus e da morte da menina Ana Clara, eles também foram acusados de atirar contra delegacias de polícia na capital maranhense.

Diante do alarido, o Ministério Público Estadual apressou-se em publicar nota, explicando as razões pelas quais não denunciou os indiciados no inquérito (leia aqui).

Daí em diante, foi possível constatar que, na verdade, não foi um ato unilateral da juíza da 1ª Vara Criminal, mas simplesmente uma decisão decorrente da ausência de denúncia em relação a essas duas pessoas, por absoluta falta de provas.

E aí vem a pergunta. Se não há prova contra eles, por que a policia os prendeu?

Relembrei as declarações de delegados e uma entrevista coletiva, na sede da Secretaria de Segurança, onde Sansão e Julian foram expostos publicamente, ao lado dos outros acusados pelo crime (relembre aqui).

Eles foram apontados indistintamente como figurantes na câmera de monitoramento do ônibus, alvo do ataque, no dia 03 de janeiro. Apesar da péssima qualidade das imagens (veja aqui), a polícia dizia que Sansão e Julian teriam aparecido no vídeo, naquele dia.

A mídia já havia condenado e julgado, quando a notícia da exclusão da denúncia chegou como uma bomba.

A reação primeira foi tentar desqualificar a juíza. Depois, foram para cima do Ministério Público. Por último, já sem graça, estão sorrindo amarelo para a polícia.

O delegado Marcos Afonso, de forma corajosa, veio a público (veja aqui). Foi a pá de cal.

As imagens dessas pessoas ganharam o mundo. Houve um linchamento coletivo, em relação ao dois, porque afinal e ao cabo, não havia provas contra eles. E agora, quem restabelecerá o prejuízo, quem apagará o estigma que foi criado?

Assim como aconteceu com Sansão e Julian, quantos presos provisórios não são absolvidos no final dos seus processos?

Quantos constrangimentos, quantas violências e até a morte, não pesaram sobre suas cabeças, antes que tivessem direito ao um julgamento técnico?

Lembrei quando entrevistava hoje um preso, membro de uma facção no CDP. Ele dizia: tudo bem, somos bandidos, mas aqui tem muita gente inocente esperando julgamento. Acordei que estava no CDP, um Centro de Detenção de Presos Provisórios.

Lembrei dos presos lesionados por balas de borracha, da apresentação do objetos pessoais de presos, misturados com celulares e armas, como se tudo fosse posse ilegal. E os presos reclamando do confisco de rádios de pilha, televisores, ventiladores e alimentos, este últimos sendo estragados com desinfetantes, quando não jogados no lixo.


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