domingo, 19 de janeiro de 2014

Maranhão: para não omitir a verdade

Depois que li dois artigos, no jornal Folha de São Paulo, da lavra de dois expoentes dos principais grupos políticos que disputam o governo do Estado, fiquei tentado a me manifestar. A uniformidade nos títulos dos artigos talvez denuncie as semelhanças (veja aqui o artigo de Roseana Sarney; e aqui,o artigo de Flávio Dino) nos dois campos políticos.

Não que não haja diferenças entre os dois articulistas, para além da capacidade intelectual, cujo referencial não pode ser o mais importante para uma análise das duas propostas políticas, em francas escaramuças. Elas se separam na base, mas se reconciliam no topo da pirâmide, representada pela coalização PT-PMDB.

Os dois não dizem novidades, evidenciando apenas o que interessa a cada um dizer, no momento da crise.

Cabe perguntar se a crise não está encrustada em algum lugar da política, visto que governos são obras de grupos de interesse. Convém indagar também, se, após quase 50 anos de domínio, o povo maranhense não consegue identificar as práticas desses grupos e a quem as mesmas beneficia, no explícito jogo do empurra, muito próprio de uma província pobre, que enriquece surpreendentemente seus profissionais da política.

O PIB, na cabeça da governadora, é a prova dos nove. É por ele que ela quer explicar o aumento da violência, ruborizando seus aliados de primeira hora no Planalto Central. Sobre nossa riqueza, não diz novidade, no entanto, Roseana. Mas há quase 50 anos, o objetivo principal do maranhense é vê-la distribuída para todos, não apenas para uma elite parasitária, comensal de palácios de luxo.

Flávio teria razão em falar do Maranhão de Verdade, se o seu grupo representasse com mais segurança a mudança política. Ele consegue, na verdade, emprestar sentido pejorativo ao termo Balaio - lembrança de mártires do povo dominado pelos interesses colonialistas - cunhado aqui como sinônimo de bagunça ideológica. Presenças incômodas, biografias corroídas, fazem entrever menos do que um grupo, mas uma verdadeira matilha.

Nesse sentido, cabe pesquisar por onde anda o valor republicano nos dois grupos. Um esforço de apertada síntese poderia identificar pontos de estrangulamentos, que funcionam como verdadeiros "grampos", que prendem os grupos de Roseana e Flávio Dino no mesmo roupão patrimonialista:

a) a mesma base ruralista, com nuances no trabalho escravo, agronegócio, madeireiros, pistoleiros e coronéis do latifúndio;
b) a mesma base na corrupção política e administrativa, na prática de agiotagem e na violência política;
c) a mesma matriz de desenvolvimento, trançada pelos grandes projetos de desenvolvimento, beneficiando grandes grupos econômicos, sob a coordenação do governo federal;
d) a mesma política de segurança, configurando um mesmo padrão de soluções: mais presídios, mas seletividade penal; ausência de uma nova politica antidrogas, que se contraponha à orientação norte-americana; mais repressão e menos transparência na gestão dos recursos;
e) a mesma base de sustentação política no Congresso Nacional: ruralistas, fundamentalistas, coronéis da política (Sarney, Collor, Maluf, Rena Calheiros, para ficar apenas nos mais queridos).

Para combater a doença, haveremos que lançar mão de remédios. Bactérias se combatem com antibióticos. Vírus, com vacinas. De igual modo, não se pode combater uma oligarquia, alimentando suas práticas.

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