As
identidades africanas do Estado, fizeram aqui proliferar terreiros do culto
Mina, a partir das culturas jeje daomeanas (Benin-África Ocidental), das
culturas iorubanas (Nigéria, Togo, parte do Benin) e das culturas de escravos
provenientes da Costa do Ouro, atual República de Gana, lugar de onde veio a
etnia Fanti-Ashanti.
Essa
identidade religiosa foi se afirmando com a participação de entidades
esprirituais de dentro e de fora do panteon africano, como é o caso dos
"caboclos", e dos rituais de pajelança, de induvidosa contribuição
indígena.
O
etnocentrismo Europeu e a modernidade neoliberal tenta suplantar a
tradicionalidade presente na identidade maranhense, negando essa religiosidade
que influi decisivamente para a afirmação de nossas manifestações culturais,
como o tambor de crioula, o bumba-meu-boi e a não menos importante medicina natural,
herança da inspiração xamânica.
De fato,
dos índios, herdamos, no aspecto reiligioso, os rituais de Cura ou pajelança,
mais conhecida como "brinquedo" ou "toque de maracá", muito
praticado ritualmente nos terreiros de São Luís, onde o curador ou pajé, através
de uma sessão espiritual, incorpora variadas entidades espirituais, incluindo
espíritos de animais. Daí veio a contribuição dos banhos, dos chás, partilhada
entre nós até pelos que não desconfiam das suas origens.
Fora do
jogo neoliberal, os terreiros não competem e não precisam convocar o fiel à
conversão. O povo-de-santo não se converte, por argumentos retóricos de líderes
religiosos: o santo (como experiência mística individual) traz ele ao terreiro
- a identidade é uma pulsão.
Essa
religiosidade, embora negada por muitos, reflete com precisão o cenário de uma
luta pela afirmação da identidade.
São muitos
os relatos, dentre nós, dos acometidos por transtornos mentais, motivados pela
renúncia ao "Santo". Nas comemorações dos quatrocentos anos, nossa
identidade foi alienada (vendida) a peso de ouro para a indústria do espetáculo
mercantil. Uma letra qualquer diz o que somos, antes que possamos nos
manifestar: é o mercado que tenta ditar a identidade maranhense.
Soubemos
entristecidos que até as índias que ornamentarão o espetáculo dessa alienação
mental foram escolhidas dentre as dançarimas superficializadas do Boi de
Morros. Lutamos nós contra nós mesmos, na esquizofrenia globalizante em que o
pós-moderno nega a tradição.
A
identidade sobreviverá à homogeinização neoliberal, porque os que se negam são
lançados no abismo da alienação. Nas comemorações dos quatrocentos anos, mesmo que alijados, como sempre, da mesa farta do orçamento público, jamais deixaremos de ser maranhenses. Se o governo diz que nos vende, nesse balcão, nossa
identidade se recusa a ser mercadoria.
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