quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Enchente

Enchente, na visão de Guimarães Rosa:
"E descia mais porcariada,mas visível, de ciscos e gravetos; desciam toros flutuantes, e corpos, mortos ou meio, de pêlo, de escama e de pena, conviajando com a babugem e com os pedaços de vegetais. Mas a enchente ainda despejava e engrossava, golfando com intermitências, se retorcendo em pororoca, querendo amassar cama certa para poder correr. Cada copa de árvore, emergente ou afundada, cada grota submersa ou elevação de terreno, tudo servia para mudar a toada das águas soltas. E, no bramido daquele mar, os muitos sons se dissociavam - grugulejos de redemonihos, sussurros de remansos, chupões de panelas, chapes de encontros de ondas, marulhar de raseiras, o tremendo assobio dos vórtices de caldeirões, circulares, e o choro apressado dos rabos-de-corredeiras borborinhantes."
Lembrei desse trecho do livro Sagarana, depois de atravessar as piscinas da estrada de Ribamar, neste final de semana. Êta chuva braba.

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