Crise Aérea
Subject: A Invenção da Crise Aérea - Por: Marilena Chauí (Interessante)> Entrevista concedida a Paulo Henrique Amorim para o Blog - Conversa Afiada > do iG>> Era o fim da tarde. Estava num hotel-fazenda com meus netos e resolvemos > ver jogos do PAN-2007. Liguei a televisão e "caí" num canal que exibia um > incêndio de imensas proporções enquanto a voz de um locutor dizia: "o > governo matou 200 pessoas!". Fiquei estarrecida e minha primeira reação > foi típica de sul-americana dos anos 1960: "Meu Deus! É como o La Moneda e > Allende! Lula deve estar cercado no Palácio do Planalto, há um golpe de > Estado e já houve 200 mortes! Que vamos fazer?". Mas enquanto meu > pensamento tomava essa direção, a imagem na tela mudou. Apareceu um > locutor que bradava: "Mais um crime do apagão aéreo! O avião da TAM não > tinha condições para pousar em Congonhas porque a pista não está pronta e > porque não há espaço para manobra! Mais um crime do governo!". Só então > compreendi que se tratava de um acidente aéreo e que o locutor > responsabilizava o governo pelo acontecimento.> Fiquei ainda mais perplexa: como o locutor sabia qual a causa do > acidente, se esta só é conhecida depois da abertura da caixa preta do > avião? Enquanto me fazia esta pergunta e angustiada desejava saber o que > havia ocorrido, pensando no desespero dos passageiros e de suas famílias, > o locutor, por algum motivo, mudou a locução: surgiram expressões como > "parece que", "pode ser que", "quando se souber o que aconteceu". E eu me > disse: mas se é assim, como ele pôde dizer, há alguns segundos, que o > governo cometeu o crime de assassinar 200 pessoas?> Mudei de canal. E a situação se repetia em todos os canais: primeiro, > a afirmação peremptória de que se tratava de mais um episódio da crise do > apagão aéreo; a seguir, que se tratava de mais uma calamidade produzida > pelo governo Lula; em seguida, que não se sabia se a causa do acidente > havia sido a pista molhada ou uma falha do avião. Pessoas eram > entrevistadas para dizer (of course) o que sentiam. Autoridades de todo > tipo eram trazidas à tela para explicar porque Lula era responsável pelo > acidente. ETC.> Mas de todo o aparato espetacular de exploração da tragédia e de > absoluto silêncio sobre a empresa aérea, que conta em seu passivo com mais > de 10 acidentes entre 1996 e 2007 (incluindo o que matou o próprio dono da > empresa!), o que me deixou paralisada foi o instante inicial do > "noticiário", quando vi a primeira imagem e ouvi a primeira fala, isto é, > a presença da guerra civil e do golpe de Estado. A desaparição da imagem > do incêndio e a mudança das falas nos dias seguintes não alteraram minha > primeira impressão: a grande mídia foi montando, primeiro, um cenário de > guerra e, depois, de golpe de Estado. E, em certos casos, a atitude chega > ao ridículo, estabelecendo relações entre o acidente da TAM, o governo > Lula, Marx, Lênin e Stálin, mais o Muro de Berlim!!!>> 1) Que papel desempenhou a mídia brasileira - especialmente a televisão - > na "crise aérea" ?> Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é > a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou > responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas!> Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há > o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude > compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o > estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência > governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito > a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos > interesses econômicos.> No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um > episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a > legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência > técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não > esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores > oposicionistas no dia seguinte às eleições: "o povo votou contra a opinião > pública". Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia > brasileira!
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