quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

01/05/2007
Apresentação
Emoção mesmo foi rever as mangueiras, próximo à rua em que morei em Balsas. Elas estavam lá, pernoitando a praça. Grandes e silenciosas. O campinho de jogar bola ficava ao lado. A praça e o colégio, tudo perto de casa.
Devagarzinho o destino me empurrava para o mundo. Ali pude saber o que era a obrigação de estudar compulsivamente. Tinha sido arrancado das florestas e dos igarapés de Riachão. Por muito tempo permanecia admirando o rio Balsas, como que invocando as lembranças do menino solto nas ruas e nas chapadas. O rio Balsas me trazia de volta o rio Farinha, de poucas visitas. Depois do primeiro abraço desconfiado, tomei por hábito nadar no rio. Mas a solidão lentamente já tomava conta de mim.
Escrito por pedrosa às 22h35
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Apresentação
Se nasci na ilha, cresci no sertão. Lembro dos frutos da chapada, especialmente dos cajuís e das macaúbas. Fui menino arredio, mas travesso. Fazia longas perambulações pelo mato e minha mãe não gostava nada disso. Lembro dos riachos, de águas límpidas, nas sombras das florestas. Nos longos percursos, de veredas de areia branca, vegetação baixa, divisava quando em vez tímidas siriemas. O canto delas fazia parelha com os dos ferreiros, lembro bem, num dia de sede intensa. Os caçadores contavam estórias dos jacus, dos catitus, das cotias, da antas, das pacas ....
Mes pais tinham uns compadres num povoado distante do município de Riachão. O nome era bonito: canto dos pilões. Recentemente, retornei a Riachão. Revi, distante, pessoas, que não me reconheceram. Vislumbrei antigos locais de brincadeiras de criança. Senti falta da floresta da "Barriquinha", onde caçava passarinho. Havia casas no local.
A cidade mudara pouco, depois de tanto tempo. Pobre Riachão. Senti um misto de ternura e vazio.
Escrito por pedrosa às 22h20
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Apresentação
Aquelas palavras jocosas me fizeram lembrar o livro de memórias de Neruda, Confesso que vivi. Estava sentado numa cadeira, com a mesa à frente. Os colegas, que eu não conhecia, sorriam do que dissera o professor de química. A força da lembrança que aquelas palavras jogaram no meu rosto me impediram de ficar mais sem graça ainda. Era como uma brisa tépida: - O sr. certamente veio junto com a enchente!
Se o professor quis me desconcertar ou apenas fazer graça para descontrair a turma, não sei. O fato é que talvez tenha realmente vindo com a enchente, no murmúrio das águas do rio Balsas, nas suas ligeiras correntes. E era realmente o tempo de suas enchentes, onde o seu leito regularmente devorava os casebres dos ribeirinhos, tragando para o seu leito indomável raízes e troncos. Lembrei do quanto estava longe do rio que me acompanhou nas brincadeiras de infância. Foi difícil reconstruir a vida a partir do que não conhecia. Inclusive a partir da disciplina daquele professor: química.
Escrito por pedrosa às 21h22
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Brecht
Perguntas de Um Operário Letrado Quem construiu Tebas, a das sete portas?Nos livros vem o nome dos reis.Mas foram os reis que transportaram as pedras?Babilónia, tantas vezes destruída.Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casasDa Lima dourada moravam seus obreiros?No dia em que ficou pronta a Muralha da China, para onde Foram os seus pedreiros? A grande RomaEstá cheia de arcos do triunfo. Quem os ergueu? Sobre quemTriunfaram os Césares? A tão cantada BizâncioSó tinha paláciosPara os seus habitantes? Até a legendária AtlântidaNa noite em que o mar a engoliuViu afogados gritar por seus escravos.O jovem Alexandre conquistou as Índias.Sozinho?César venceu os gauleses.Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?Quando a sua armada se afundou, Filipe de EspanhaChorou. E ninguém mais?Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos.Quem mais a ganhou?Em cada página uma vitória.Quem cozinhava os festins?Em cada década um grande homem.Quem pagava as despesas?Tantas histórias.Quantas perguntas.Bertold Brecht
Escrito por pedrosa às 21h06
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Apresentação
É incomum uma apresentação no meio de uma conversa. Mas este blog não será um blog comum. Deixarei algumas ferramentas que me aproxime de meu leitor. Nada tipo diário sentimental. Apenas algumas lembranças que me construíram, lentamente, como as águas de um córrego.
Começo por dizer que sou de lugar nenhum. Tantas foram as mudanças e os lugares, que me perdi sem origem precisa. Tenho apenas uma colcha de retalho em forma de reminiscências. Nunca me preocupei em juntar os pedaços da minha vida, mas guardei em algum canto escuro do quarto da memória, fotografias, muitas fotografias. Algumas carcomidas pelo tempo, sem nitidez, com personagens confusos. Outras, coloridas, iluminadas pelo sol da memória - como em manhãs de esplêndido verão.


Escrito por pedrosa às 20h55

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