O caso Décio ainda está longe de alcançar uma solução satisfatória para o cidadão bem informado. De tudo o que já foi publicado, resta uma sensação de que o inquérito encontrou limites institucionais. E não pode mais prosseguir.
A investigação foi importante, mas para seguir adiante, necessitaria de uma pressão muito maior da sociedade, especialmente dos aliados de Décio - aqueles que sobretudo tinham o seu jornalismo como um modelo a seguido!
O que percebemos foi exatamente o contrário. Os mais fortes aliados para dar a resposta contra esse crime - os do Governo - misteriosa e discretamente foram se escondendo, após os primeiros arroubos escandalosos. É como se dessem a entender que a investigação teria chegado a um ponto em que seus interesses estariam ameaçados.
Uma lista de 41 de prefeitos envolvidos com agiotagem foi divulgada, contribuindo para fragilizar a coesão interna da classe política, em torno do tema. Sem falar na divulgação de gravações telefônicas colocando em dúvida as investigação a partir da conexão Barra do Corda.
Desde o cenário do crime, alimento dúvidas. Acredito que Décio foi atraído para o local da sua morte por seus amiguinhos. Eles curiosamente compunham um círculo de amizade onde os investigados e responsabilizados pelo crime tinha assento livre. Não costumava jantar sozinho. Não iria para aquele lugar, para se isolar do mundo, pelo contrário. Foi ali para tratar de "negócios", atraído por alguém que conhecia. O pistoleiro o seguiu, mas sabia qual o seu roteiro. Sobre essas interceptações paira uma nuvem fosca.
A resistência de alguns membros da família do morto em colaborar com as investigações também chamaram a atenção. Um irmão de Décio, ainda no local do crime, não queria entregar o celular da vítima para a polícia, por motivos inexplicáveis. Ouvi esse relato de um policial.
Sobre uma viatura nas proximidades do local do crime, apresentando reação estranha e os telefonemas disparados pelos seus condutores logo após o crime, ninguém disse nada. Sobre a presença de um suposto policial, expulso da PM, pela prática de pistolagem, no local do crime, também não sabemos de nenhum desdobramento. São informações que também obtivemos de policiais.
E agora a CPI.
Depois de todo o trabalho que indicou a responsabilidade de um Deputado do próprio grupo do governo, Raimundo Cutrim - nada menos do que o ex-Secretário de Segurança -, assistimos mais um capítulo desta confusa e mal explicada estória. Acuado, o Deputado adotou uma estratégia que surpreendeu a todos: quer uma CPI da agiotagem.
A estratégia pode até ser dissimulada, mais foi eficiente. Colocou a investigação em dúvida novamente. E mais: direcionou a investigação para o campo político, o centro realmente do problema da agiotagem no Estado. Ou teria alguém acreditando que o problema só diz respeito a prefeitos?
O resultado foi hilariante. Governo e oposição - certa oposição - foram colhidos na tarrafa de Cutrim. Nomes de proa resistem em assinar o requerimento de instalação da CPI. Governistas e oposicionistas apresentam desculpas esfarrapadas para a omissão explícita. O que temem?
A movimentação das peças do xadrez traduz evidências: o crime tem sim seus desdobramentos políticos e a agiotagem envolve bases políticas distintas, mas como se sabe, com conteúdo ideológico idêntico. Oposição - certa oposição, repito - e governo sempre adotaram as mesmas práticas criminosas nas eleições. Isso diz respeito ao modelo de financiamento, no que o Juiz Marlos tem razão.
O prato está montado, para o deguste dos leigos. O debate político, se houver a CPI, vai ser mais apaixonante e atrairá mais a atenção da opinião pública do que um processo judicial moroso, estruturado a partir de uma investigação que não respondeu a todas as perguntas.
Décio ficará para o segundo plano, apesar do grito solitário de alguns poucos. Eles vão assassiná-lo pela segunda vez.
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