O coordenador geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Maranhão (Ufma), Giovanny Cid dos Santos Castro, detalha os motivos que levaram os estudantes a protestar, na semana passada, ao tentar ocupar a reitoria. Estudante do 4° período do curso de Geografia, Giovanny Cid nega que seja uma greve dos alunos, seria apenas um protesto com base em várias reivindicações, como contratação de professores e mais ônibus.
“Na terça-feira foi convocada, pela atual gestão do DCE, uma Assembleia Geral de Estudantes da UFMA para tratar de todos os problemas enfrentados na universidade, em especial os que dizem respeito à assistência estudantil (residência no campus, RU, bolsa permanência, creche e transporte) e falta de professores. Depois das discussões, os estudantes deliberaram por entregar essa pauta de reivindicações à Reitoria. Entretanto, os estudantes foram recebidos com os portões fechados e a guarda armada do campus”, relata.
“Diante disso, os estudantes votaram por permanecer no prédio da Reitoria até que o reitor aceitasse receber a pauta e a atender as demandas dos estudantes. As aulas não foram alteradas, mas muitos estudantes, professores e funcionários passaram pelo prédio para apoiar o movimento”, garante.
A seguir a entrevista com o coordenador geral do DCE da Ufma, que critica também o velho movimento estudantil e desfere algumas bordoadas na União Nacional dos Estudantes (UNE).
JORNAL PEQUENO – Quando assumiu a atual gestão e as metas?
GIOVANNY CID DOS SANTOS CASTRO - A gestão “Ninguém pode nos Calar” assumiu no dia 17 de janeiro e foi eleita defendendo uma atuação realmente participativa, que lutasse junto com os estudantes pela melhoria da universidade, por uma educação pública, gratuita e de qualidade a serviço dos trabalhadores e trabalhadoras. Dentre as principais bandeiras está a assistência estudantil ampla, a luta contra as opressões e o combate à privatização da saúde e da educação.
JP – Qual a situação do movimento estudantil, no Maranhão e no país?
GCSC – No Brasil, e também no Maranhão, vivemos um momento de reorganização do movimento estudantil, a partir de novos espaços de luta e organização dos estudantes diante da inércia das organizações tradicionais. A União Nacional dos Estudantes (UNE), que historicamente organizou a luta dos estudantes no país, nos últimos anos tem abandonado essa história e legitimado as políticas educacionais do governo, as quais vão contra os interesses da sociedade. A partir disso, vários grupos e coletivos se organizam, seja dentro da própria entidade, através da oposição de esquerda, ou através de novas organizações, como a Assembleia Nacional de Estudantes Livres (ANEL). Essas entidades também constroem o Diretório Central dos Estudantes (DCE), e junto com diversos estudantes independentes demonstram a fórmula para travar as lutas e os desafios da juventude: um movimento democrático, combativo e independente.
JP – O movimento perdeu a força e o brilho dos outros tempos?
GCSC – A traição da UNE não esmoreceu os estudantes que constroem as lutas que não passam por dentro da entidade ou se enfrentam com ela. A força e o brilho de outros tempos estão presentes nas novas lutas e com outros tons, a exemplo do que ocorreu com o Comando Nacional de Greve Estudantil, que foi uma liderança nos mais de 100 dias de greve estudantil nacional. No Brasil e no mundo, os estudantes encontram novas formas de se organizar e lutar por suas demandas. No Chile e no Canadá, os estudantes foram às ruas contra a privatização da educação. Em Porto Alegre e outras capitais do Brasil, protagonizaram vitoriosas lutas contra o aumento das passagens de ônibus. O movimento ganha cada vez mais força e brilho a partir da ação direta e da organização democrática de novos espaços de luta.
JP – A assembleia de terça-feira decidiu pela greve?
GCSC – Na terça-feira foi convocada, pela atual gestão do DCE, uma Assembleia Geral de Estudantes da UFMA para tratar de todos os problemas enfrentados na universidade, em especial os que dizem respeito à assistência estudantil (residência no campus, RU, bolsa permanência, creche e transporte) e falta de professores. Depois das discussões, os estudantes deliberaram por entregar essa pauta de reivindicações à Reitoria. Entretanto, os estudantes foram recebidos com os portões fechados e a guarda armada do campus. Diante disso, os estudantes votaram por permanecer no prédio da Reitoria até que o Reitor aceitasse receber a pauta e a atender as demandas dos estudantes. As aulas não foram alteradas, mas muitos estudantes, professores e funcionários passaram pelo prédio para apoiar o movimento.
JP – Será apenas de estudantes ou os professores caminham para fazer o mesmo?
GCSC – A indignação na UFMA é geral! O processo de expansão sem qualidade patrocinado pelo Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) resultaram na precarização do trabalho docente e na queda de qualidade de ensino das universidades públicas de todo o Brasil, o culminou com a greve nacional das universidades públicas federais de 2012. Justamente por isso, a categoria apoiou a ocupação da Reitoria e entendeu como legítima as reivindicações estudantis.
JP – Quais as principais reivindicações dos alunos?
GCSC – Prioritariamente, as pautas referentes à Assistência Estudantil: finalização e entrega da Casa de Estudantes no Campus do Bacanga e criação de outras residências estudantis nos campi do interior, aumento da bolsa auxilio, ampliação e reforma do Restaurante Universitário (RU) no Campus do Bacanga e construção de RUs em outros campi e Creche Universitária. Além disso, exigimos a contratação imediata de mais professores, o aumento da frota de ônibus e criação de novas linhas, mais segurança, iluminação e acessibilidade de qualidade nos campi, entrega do prédio de Enfermagem de São Luís, construção do Centro de Artes e garantia da transparência do projeto político pedagógico dos cursos de licenciatura interdisciplinar dos campi do interior.
JP – A falta de professores, problemas estruturais na Casa dos Estudantes, transporte público de péssima qualidade, bibliotecas setoriais que não ficam prontas: são problemas antigos?
GCSC – Sim, em 2005, uma grande batalha entre estudantes e UFMA começou para garantir a residência estudantil no campus do Bacanga. Foram reuniões, ocupações, discussões e audiências judiciais que garantiram a construção da Casa dos Estudantes. Em 2007, com a casa quase pronta e com um novo reitor assumindo, houve desvio de finalidade da obra. Com isso, a Casa foi praticamente destruída e vem sendo reconstruída para se tornar apenas um núcleo de assistência estudantil. Apenas pouco mais de 70 estudantes têm direito a assistência à moradia, ainda que em condições insatisfatórias. Portanto, se faz mais do que necessário a entrega da Casa no Campus do Bacanga, e a construção de outras, principalmente pelo grande aumento de estudantes na universidade. O problema do transporte também é antigo e se agrava a cada novo período. São poucos ônibus e uma única linha para atender a todos que pretendem ter acesso ao campus. Até hoje, nenhuma biblioteca setorial foi inaugurada.
JP – Desses problemas o que prejudica mais é a falta de professor?
GCSC – Todos os problemas são graves e urgentes. A falta de professores está entre o mais vergonhoso, pois a universidade deveria ser referência na produção do conhecimento, apoiada no tripé do ensino, pesquisa e extensão, e para isso os educadores são essenciais. Desde 2007 o número de vagas de acesso a universidade cresceram desproporcionalmente ao número de professores, que carregam nas costas o peso da expansão sem qualidade das universidades públicas. Hoje na UFMA temos um contingente enorme de professores contratados e temporários, em detrimento dos professores efetivos, já sobrecarregados, que são desobrigados de dedicar-se a pesquisa e a extensão.
JP – O reitor já recebeu a pauta de reivindicações de vocês?
GCSC – Não, pois ele se recusou a recebê-la e fez tudo que era possível para desmobilizar a ocupação (trancou os alunos no hall da Reitoria sem que pudessem ter acesso à energia, alimentação, água e uso de banheiros). A ocupação durou quase 48 horas e, apenas no ultimo minuto, com a polícia já acionada e com a presença de um oficial de justiça entregando um mandado de citação, intimação e de reintegração de posse impetrado contra estudantes, o Prefeito de Campus, em nome da Reitoria, se pronunciou indicando dia e horário da reunião onde será entregue e discutida a pauta de reivindicações. Algumas horas depois, a Assessoria de Comunicação (ASCOM) da UFMA declarou que irá lançar uma nota em que a Administração Superior se compromete a receber a coordenação da ocupação no dia 17 de maio.
JP – Qual o conteúdo do vídeo postado por vocês?
GCSC – Desde o inicio da ocupação, vários vídeos foram lançados a fim de informar toda a comunidade acadêmica e população sobre o que estava acontecendo. Infelizmente, a postagem desses vídeos foi reduzida depois que a luz e a internet foram cortadas. Foi uma tática para que ninguém soubesse o que estava acontecendo na ocupação da reitoria.
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