quarta-feira, 23 de maio de 2012

O caso da jornalista baiana e caso do jornalismo maranhense

Em vários posts anteriores reproduzo matérias a respeito da atuação de uma jornalista baiana, repórter da Band, Mirella Cunha.
A repórter atuava em nome de um programa denominado Brasil Urgente, transmitido pela filiada baiana da TV Bandeirantes, quando entrevistou um preso, acusado da prática dos crimes de roubo e estupro.
No decorrer da entrevista, a repórter fez o que um segmento específico da imprensa já está acostumado a fazer, sem maiores questionamentos das autoridades e da audiência: acusou, julgou e humilhou o acusado, um jovem, pobre e negro.
Um internauta, Fabrício Ramos, por intermédio do facebook, fez o vídeo chegar às mentes mais esclarecidas. Em menos de 24 h o vídeo ganhou repercussão nacional.
Jornalistas emitiram nota pública e autoridades do Ministério Público foram acionadas. A própria TV Bandeirantes viu-se na contingência de se pronunciar, como se não soubesse que os programas policiais que reproduz, seja nacionalmente, ou regionalmente, violam direitos constitucionais de presos pobres. Ela não é a única, sejamos claros.
A polêmica é boa, porque talvez as mesmas providências se reproduzam nos casos semelhantes. Talvez até chegue  ao Maranhão este senso de indignação coletiva! Ratinhos e Datenas multiplicaram a fórmula mágica para incrementar a audiência, criando a sensação de insegurança na população e formulando o discurso do sistema penal máximo. No entremeio das reportagens as violações aos direitos fundamentais dos presos, geralmente pobres, sem o direito de se defender por advogados ricos.
Aqui no Maranhão já tive oportunidade de assistir por acaso um desses programas, apresentados pelo que há de mais baixo nível no jornalismo. O apresentador, segundo me informaram, exibe um cassetete, a quem alcunha de "direitos humanos". O estilo é o mesmo.
Há tempos, reclamei ao Ministério Púbico, da existência desse tipo de programa no Estado. Houve até um esboço de um termo de ajustamento de conduta, a ser celebrado com as emissoras de rádio e TV, mas não foi adiante. Cheguei a ponto de discutir com o bispo esse modelo de jornalismo, uma vez que a Igreja Católica é responsável por vários programas na Rádio Educadora.
Para os ricos, o jornalismo de porta de cadeia dispensa tratamento diferente. Sequer são chamados de "elementos", como é costume. Ninguém diz que é para "meter a taca", ou coisas do gênero. A deferência aos ricos e a intolerância aos mais pobres é a regra.
Na Bahia, novos ventos sopram, fazendo respirar a liberdade de opinião, ao que parece. Os próprios jornalistas rompem o cerco do corporativismo e abrem o debate acerca da liberdade de imprensa, em confronto com os direitos humanos dos presos.
Não é apenas o jornalista que deve ser responsabilizado, mas seu patrão. O patrão está regido por leis e lucra com este tipo de audiência, que alimenta o círculo vicioso da violência pelo estigma que cria.
E aqui? Alguém teria a coragem de se manifestar?

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