domingo, 27 de maio de 2012

A hipocrisia do desgoverno

Política é a construção coletiva do bem comum. O indicador de resultado de uma boa política é o bem comum alcançado. E não há outra forma mais inteligente para aferir o bem comum, numa determinada sociedade, do que os indicadores sociais.

No Estado do Maranhão é urgente perguntar se há um bom governo, corolário de uma boa prática política. A recente reportagem, no jornal nacional (http://globotv.globo.com/rede-globo/jornal-nacional/v/sudoeste-do-maranhao-convive-com-a-violencia-no-campo/1964660/, sobre a violência no campo maranhense nem poderia mais causar espanto, entre nós.Afinal, o Estado sempre se notabilizou em reportagens nacionais sobre seus péssimos indicadores sociais.

O duro mesmo é ouvir as justificativas dos meios de comunicação encabrestados, um dos principais instrumentos de domínio da política local. Vou pinçar apenas algumas, para mero efeito didático: 


O governo diz, segundo a reportagem, que, desde o ano passado, não recebeu nenhum pedido de proteção para lideranças rurais. E que criou uma delegacia agrária para apurar os crimes envolvendo conflitos no campo.

Numa rádio AM local, o locutor disse que Roseana sabe como lidar com conflitos fundiários, porque, no seu primeiro governo, teria conseguido acabar com eles.

A primeira informação vem dentro da própria reportagem do Jornal Nacional, sem dúvida, obra da TV Mirante, voz do governo nos meios de comunicação. As sucessivas ocupações do Incra pelos quilombolas e até a audiência pública, que trouxe para São Luís, três Ministérios do governo Dilma, parecem ter caído no esquecimento. A orientação do governo para a Secretaria de Segurança Pública não colaborar com o programa Defensores de Direitos Humanos também ninguém lembra. As várias declarações do sistema de segurança pública, no sentido de não haver estrutura para garantir a integridade física de uma lista enorme de ameaçados, imagine.

O cinismo é maior na expressão "desde o ano passado não recebe nenhum pedido de proteção para lideranças rurais". Primeiro o sujeito diz que não tem como atender. Depois diz que não sabe porque não recebeu mais pedidos.

O segundo é obra de locutor babaca do sistema. Não sei de onde buscou a informação de que o primeiro Governo Roseana fez a reforma agrária e acabou com o conflito fundiário. A menos que diga que o INCRA é órgão do governo do Estado, pois foi o período de maior número de desapropriações no Estado. O Estado mesmo não fez nada. O orçamento sempre foi o mesmo para essa demanda e o órgão fundiário sempre teve o mesmo tratamento, de sucata.

Lembro que, no período, a CPT nacional entrou em crise de financiamento. Os dados sobre os conflitos em vários Estados foram subestimados, incluindo o Maranhão. Num desses anos, do primeiro governo Roseana, o relatório apresentou o Maranhão com apenas 14 conflitos fundiários. O governo estadual se aproveitou do ensejo, para espalhar que a o conflito fundiário estaria sob controle no Maranhão, fruto do trabalho e da perspicácia da Governadora.

Pela Fetaema, fizemos uma pesquisa, que, mais tarde, se transformou num livreto, publicado pelo Mestrado em Políticas Públicas da UFMA: A luta pela terra no Maranhão. Ali, contrariando os dados da CPT, com apenas os dados do Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais, apontávamos a existência de mais de trezentos conflitos fundiários no Estado, no mesmo ano em que a Governadora afirma ter solucionado o problema da terra.

Agora, com a nova gestão da CPT, tendo à frente o incansável Padre Inaldo, teremos os dados sobre a violência fundiária ao seu patamar de realidade. A vantagem do Relatório da CPT é que é um instrumento de denúncia que publiciza a omissão dos governantes, no cumprimento de suas responsabilidades, no que diz respeito ao combate às mazelas do campo.

Só para lembrar aos puxa sacos do governo: não é apenas com um Delegado, sem qualquer estrutura de trabalho, que o Estado vai se livrar desses dados negativos. A causa da violência no campo - que nenhum governo de elite quer enxergar - nada mais é do que a concentração fundiária, que se molda a partir de uma visão de desenvolvimento.

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