quarta-feira, 23 de maio de 2012

A cidade sitiada



São Luís está sitiada. Não é um fenômeno casual. É o resultado de dezenas de anos de desleixo e de irresponsabilidade da classe política.

Apesar de ser uma cidade turística, tombada pela Unesco, como patrimônio da Humanidade, com inegáveis atributos culturais e belezas naturais, não é valorizada pelos seus gestores, sob esse ponto de vista.
A cidade hoje assume ares de sucata. Todos os seus córregos de água foram poluídos ou soterrados. Condomínios e obras públicas, via de regra licenciadas pelos órgãos de fiscalização, encarregaram-se de eliminar riachos e áreas de preservação permanente (buritizais e juçarais desaparecem velozmente).
As praias, que deveriam ser o cartão postal da Ilha, representam uma ameaça à saúde pública. Quem entra na água arrisca-se a um banho de coliformes fecais.
A especulação imobiliária reconfigurou a paisagem natural das praias, desrespeitando a legislação, ao erguer verdadeiros espigões na borda do litoral. Do antigo horizonte onde o céu se fundia com o mar restaram corredores de concreto, onde a brisa corre apertada.
 Dos hotéis e edifícios pomposos, esgotos são despejados nas praias, impunemente, nas barbas das autoridades constituídas. Agora, até o programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal, é desvirtuado, para descarregar resíduos nas praias e nos córregos.
As ruas completam o cenário de abandono. Desde as calçadas e meio fios, percebe-se que não há autoridade. Os buracos aumentam os desafios de um trânsito conturbado, sem ordenação. As sinalizações inoportunas e inadequadas, quando existem, denunciam a mais completa ausência de criatividade do gestor.
As obras que abrem novas avenidas têm em vista os interesses econômicos de grupos políticos, mais do que mitigar a pressão do tráfego. A Via Expressa, por exemplo, pretende passar por cima do primeiro núcleo de povoamento da cidade, o Vinhais Velho, em pleno aniversário dos seus quatrocentos anos.
Os hospitais transformaram-se em UPAS. Os Planos de Saúde estão quebrando, jogando a classe média para a rede pública. Crianças são atendidas hoje por um único hospital emergência. O hospital da criança foi interditado pela Vigilância Sanitária. Nas UPAS verdadeiros brutamontes fazem o atendimento da população, sem nenhum treinamento.
Os colégios da rede pública são casas mal assombradas. O capim viceja na entrada, sob o olhar complacente dos diretores - cabos eleitorais do prefeito ou dos seu correligionários. Portas e portões enferrujados e quebrados, salas e banheiros imundos, professores e alunos desmotivados.
Na rede pública municipal de ensino, o caos se instalou. No ensino fundamental, simplesmente 18.107 estudantes estão fora da escola. No ensino infantil são 7.033. No total, 25.140 crianças e adolescentes não tiveram o início das aulas, em pleno final do mês de maio. Para a prefeitura, o ano letivo ainda não iniciou.
Diante de todo esse cenário de tragédias, ainda há quem peça bis, elegendo figuras carimbadas da política. 
Mais do que nomes, é preciso renovar uma concepção de gestão da cidade.

Um comentário:

CARTAS: Pensamentos e Dicas disse...

Muita lucidez neste seu texto. Merecedor de ser lido por muitos. Compartilhei em meus canais de comunicação via internet. Parabéns, mais uma vez por seu trabalho!