sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Pausa

Nesse período, quase todos os anos, ando em sentido contrário ao formigueiro de gente que vem para a Ilha, em busca da folia de Momo.
Desapareço, por uns dias, qual vagalume na chuva. Vou-me escoando nas barrancas, para ouvir o susurro das águas subindo o leito dos rios, tragando as folhas das árvores, nos remansos de peixes esperando meu anzol.
No santuário das águas, recarrego as baterias para faina que dura o ano inteiro. Substituo o celular frenético pelo tatalar das chuvas nas folhas, enquanto miro o espetáculo do sertão-chapada repintado de verde.
Afora o período da florescência dos ipês, aprecio a secreta magia das floresta debruçada sobre o rio. Enveredar-me mato a dentro, no hiato dos rios e lagoas, sem ouvir o ronco de  motores e a histeria do mundo humano, é a minha proposta de vida para buscar novas energias, das profundezas da mãe-terra.
Aprendi a pensar melhor ouvindo o conserto de siricoras na madrugada, quando a névoa embala o frio da rede, no começo de um dia sem nada para fazer, a não ser perseguir peixes nas águas e trilhar entre árvores a salvo da destruição.
Nesses esconderijos, com pouca gente ao meu redor, reeduco a fala, afinando o ouvido para murmúrios e muchochos do linguajar rural maranhense. Sem eles, somente o trilar dos periquitos no mangal aqui, revoadas de papagaios ao longe e o borbulhar do rio.
Ali, onde o céu se fecha em nuvens poderosas e a chuva cai intermitente, logo após o clamor dos pássaros, refrigero a alma, reecontro lembranças e busco o perdão. A floresta me abraça com ternura silenciosa. O rio me leva para longe, até onde pode a força dos braços que movem o remo...

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