quarta-feira, 5 de outubro de 2011

João Alberto discute com quilombolas e causa tumulto em protesto no Leões



http://www.jornalpequeno.com.br/2011/10/5/joao-alberto-discute-com-quilombolas-e-causa-tumulto-em-protesto-no-leoes-172526.htm

5 de outubro de 2011 às 12:34

POR OSWALDO VIVIANI

Uma marcha de trabalhadores rurais e quilombolas, hoje (5) pela manhã, terminou em tumulto, depois que o ex-senador e atual secretário estadual de Programas Especiais, João Alberto de Souza (PMDB), discutiu com quilombolas ao chegar de carro ao Palácio dos Leões, destino final da caminhada.

Os manifestantes em nenhum momento impediram a passagem do carro ocupado pelo ex-senador, mas mesmo assim, ao chegar à sede do governo, às 10h, ele parou, abriu a janela do veículo e questionou acintosamente os trabalhadores sobre a motivação do protesto.

Três lavradores e uma lavradora se dirigiram ao carro. Um dos líderes da marcha, Almirandi Costa, de São Vicente Ferrer, respondeu que o protesto era contra a violência no campo, em especial contra o assassinato do lavrador Valdenílson Borges, 24 anos, no domingo (2) de manhã, no povoado Rosário, em Serrano do Maranhão.
Almirandi disse a João Alberto que esse e outros crimes no campo eram culpa da “irresponsabilidade do governo estadual”, que não proporcionava segurança aos lavradores ameaçados de morte no Maranhão.

João Alberto retrucou, irritado: “Irresponsável é você” (referindo-se a Almirandi). O líder rural, então, pegou um microfone e pediu para que João Alberto repetisse “pra todo mundo ouvir” quem o político achava “irresponsável”, ocasião em que o tumulto começou, com os policiais militares – fardados e à paisana – que fazem a segurança do Palácio dos Leões partindo para cima dos manifestantes.




Foto: G. Ferreira

João Alberto chamou os lavradores de 'irresponsáveis' e provocou uma confusão e agressão aos trabalhadores

Na tentativa de tirar o microfone da mão de Almirandi, um policial feriu outro na cabeça. Depois de causar a confusão, João Alberto fechou a janela do carro e se retirou, deixando para trás policiais e trabalhadores se agredindo.

Após a situação se acalmar, o protesto prosseguiu, com os lavradores cantando e pedindo “Justiça no campo”. A viúva do camponês assassinado, Ana Maria dos Reis Abreu, 25 anos, e sua irmã, Jodeílde Borges, 38, participaram da marcha e afirmaram ao Jornal Pequeno que também estão sendo ameaçadas de morte.

Segundo elas, o assassino de Valdenílson Borges, identificado como Edvaldo Silva – que está foragido – é filho de um homem conhecido como “Dudu Fogão”, que há vários anos ameaça as famílias de lavradores do povoado Serrano, com a intenção de tomar suas terras.

“A polícia e o governo tentam marginalizar nosso movimento, que é pacífico”, disse Almirandi Costa ao JP.

Momentos antes do episódio envolvendo João Alberto, um dos policiais responsáveis pela segurança do Palácio dos Leões já havia atirado uma Hilux para cima dos manifestantes, por pouco não ferindo vários deles.

Fim da ocupação do Incra - Ontem (4), os quilombolas, sem-terras e índios que ocupavam e bloqueavam os portões da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no Anil, deixaram o local. Os ocupantes obtiveram do governo federal o compromisso de que, nos dias 19 e 20 de novembro, o presidente nacional do Incra, Celso Lacerda, vem ao Maranhão para definir formas para agilizar as principais reivindicações do movimento: titulação de terras e proteção aos lavradores ameaçados de morte. (Colaborou Maria do Socorro Arouche)

NOTA DE ESCLARECIMENTO

Sobre a matéria publicada com o título “João Alberto discute com quilombolas e causa tumulto em protesto nos Leões”, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) esclarece que o secretário de Programas Especiais do Governo, João Alberto, chegava ao Palácio dos Leões, seu local de trabalho, na manhã desta quarta-feira (5) e, ao avistar o movimento, parou para conversar com os manifestantes. Estes iniciaram uma reação violenta e que resultou em dois policiais agredidos, um na cabeça e outro na mão direita.

Em nenhum momento o secretário João Alberto teve a intenção de tumultuar, mas de buscar a conciliação e ouvir as solicitações dos quilombolas.

A Secom reitera ainda que o Governo trabalha para atender as solicitações pertinentes ao Estado e constantes na lista de reivindicação dos quilombolas. No caso do compromisso de regularizar 17 Áreas Quilombolas em terras de domínio do Estado até o final de 2011, um total de 10 Títulos de Reconhecimento de Domínios já estão prontos para entrega e os demais estão sendo viabilizados para serem entregues até o final do ano. Já a inclusão no orçamento do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) de recursos financeiros destinados exclusivamente para os quilombolas foi contemplada na elaboração do PPA 2012 a 2015, com um PI (Plano Interno) de Regularização Fundiária em Áreas Quilombolas, no valor total de R$ 526.637,00.

Informa ainda que o Governo do Estado, por meio das secretarias de Estado de Direitos Humanos e Cidadania (Sedihc), do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (Sedagro), da Igualdade Racial (Seir), e de Segurança Pública (SSP), vem acompanhando o desenrolar do movimento dos quilombolas. Nesse sentido, representantes da administração estadual têm participado de reuniões com membros do Movimento Quilombola para negociação da pauta de solicitações, que incluem a titulação das terras quilombolas no Maranhão e a garantia da defesa e proteção de trabalhadores rurais do movimento ameaçados de morte.

O governo, por meio de técnicos da Sedihc, também acompanha a triagem que está sendo realizada com as lideranças ameaçadas e o mapeamento das áreas em litígio, ambos iniciados no último dia 4 de outubro pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. O levantamento será feito durante 20 dias em 16 municípios maranhenses.

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