segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Indústria do alumínio: A floresta virada em pó



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Reportagem produzida pelo Núcleo Amigos da Terra Brasil mostra casos
de destruição social e ambiental que empresas transacionais provocam
nos Estados do Pará e Maranhão, onde está concentrada mais de 80% da
bauxita explorada no Brasil. O alumínio é uma das principais
commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do metal,
atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e EUA. O Brasil possui a
terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto maior produtor
mundial de alumina.

Bruna Engel, do Núcleo Amigos da Terra Brasil

Violação aos direitos humanos e degradação da natureza andam juntos
quando o tema é territórios ocupados pelas corporações de mineração e
produção de alumínio. Tão útil e adaptado aos modos de vida moderno,
por ser leve, macio e resistente, esse metal esconde um processo
industrial penoso e degradante. A reportagem cinematográfica publicada
aqui revela casos de destruição social e ambiental que empresas
transacionais provocam nos Estados do Pará e Maranhão, onde está
concentrada mais de 80% da bauxita explorada no Brasil.

Ao percorrer todas as etapas do processo industrial (mineração da
bauxita, transporte por mineroduto, refino da alumina e a redução
desta para obtenção do alumínio), a equipe de repórteres flagra
diversas ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da
indústria, e dá voz aos afetados. São populações rurais de baixa renda
e sem assistência dos poderes públicos - com exceção do Ministério
Público Federal, que ainda exige o cumprimento das leis e busca
assegurar as reparações aos povos afetados.

A maioria das comunidades, até que a destruição comece, desconhece as
estratégicas de inserção e apropriação de territórios exercidos pelas
corporações mineiras, assim como seus direitos e a legislação que rege
as relações comerciais do setor no Brasil. Só depois dos danos
causados é que passam a se organizar e lutar por melhores condições de
vida. O mesmo acontece com os trabalhadores, que aliciados por
oportunidades de trabalho não imaginam que estão sendo pagos para
adoecerem e terem reduzido o tempo de vida laboral.

A pressão do capital
Com o avassalador ingresso das indústrias, a região de mineração passa
a depender economicamente do empreendimento. O processo anterior à
mina, de expropriação e compra de terras, gera especulação imobiliária
inflacionando o valor da terra. Esse processo incentiva pequenos
agricultores a venderem suas terras, seduzidos pelas quantias
oferecidas (de grande monta para a realidade deles, mas de baixo
impacto para o mercado imobiliário), e engrossar as periferias dessas
pequenas cidades, com aumento da violência, prostituição,
analfabetismo, entre outros graves problemas sociais.

Quando as empresas se instalam sobre essas áreas fatalmente cessa a
atividade de extração sustentável dos recursos na floresta, porque
extrativismo e mineração são atividades excludentes. A degradação
ambiental provocada pela instalação e operação das fábricas também
resulta em impactos na economia local: a contaminação de igarapés,
lagos e rios por lama vermelha (rejeito tóxico da limpeza da bauxita)
provoca mortandade de peixes e destrói a possibilidade de pesca
artesanal; com a poluição pelo ar, as árvores frutíferas próximo das
fábricas não dão frutos, os açaizais (principal fonte de renda das
famílias camponesas da região) sofrem queda de produtividade, assim
como outras culturas tradicionais das regiões.

Hidrelétricas e finaciamento público
A cadeia produtiva do alumínio é eletrointensiva, ou seja, necessita
de grande quantidade de energia elétrica e de água para se viabilizar.
Para a expansão da produção do alumínio, o governo federal vem
promovendo a construção de novas barragens na Amazônia, entre elas
Belo Monte, que cederá parte de sua energia para as indústrias
eletrointensivas. Além disso, bancos públicos, como o BNDES, assumiram
papel fundamental para o fortalecimento da cadeia produtiva.

O financiamento público, aliado ao reaquecimento do mercado
internacional, impulsionou a expansão das fábricas da Alunorte/Albrás,
Alumar e CBA, incluindo o financiamento de novos projetos de refinaria
em Barcarena, maior pólo do setor, a 50 km de Belém. E as fábricas não
se expandem sozinhas, junto com elas vem a abertura de novas lavras, a
construção de novas usinas hidrelétricas e termelétricas, duplicação
de ferrovias, minerodutos e etc. Ou seja, a degradação ambiental que
foi registrada nesta reportagem cinematográfica.

A força da grana
A exportação do setor metalúrgico, pelos dados mais atualizados, de
2009, correspondeu a 2,1% da balança comercial. Por sua vez, as
exportações influenciam em 2% do PIB nacional. O alumínio é uma das
principais commodities brasileiras e o país é o 6º produtor mundial do
metal, atrás da China, Rússia, Canadá, Austrália e Estados Unidos. O
Brasil possui a terceira maior jazida de bauxita do mundo e é o quarto
maior produtor mundial de alumina. Contando toda a cadeia, foram
produzidas 26074,4 mil toneladas de bauxita, 8625,1 mil toneladas de
alumina e 1690 mil toneladas de alumínio.

Em termos de negócio, a produção brasileira perde muito em valor
agregado, pois só produz produtos primários, concentrando somente os
processos mais agressivos ao meio ambiente. Exportamos, no máximo,
lingotes de alumínio. Quando chegam nos outros países, para as etapas
seguintes de transformação do metal, o alumínio para a valer quatro
vezes mais.

(*) O Núcleo Amigos da Terra Brasil, em contato com organizações e
movimentos locais, foi registrar esses conflitos com ribeirinhos para
avaliar os impactos sociais e ambientais que a indústria do alumínio
provoca desde à década de 80 no Brasil. Para isso, organizou visitas
técnicas em pelo menos um local de cada etapa da cadeia produtiva.
Essa reportagem, acompanha a pesquisa de campo e revela os casos de
ameaças aos povos tradicionais e aos trabalhadores da indústria, dando
voz aos afetados.

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