terça-feira, 8 de outubro de 2013

'Tive medo de ser outro Amarildo', diz advogado agredido por guardas

07/10/2013 20h07 - Atualizado em 07/10/2013 21h24

G1

Hugo Aurélio tentou defender hippies e acabou detido, em São Luís.
OAB-MA disse que vai pedir responsabilização criminal dos envolvidos.



Mieko Wada Do G1 MA


O advogado Hugo Aurélio Farias, 30 anos, não imaginou que ao tentar impedir que um grupo de hippies fosse tratado com maior rigor por homens da Guarda Municipal de São Luís, no centro histórico, acabasse sendo agredido verbal e fisicamente, e conduzido a um plantão de polícia. Além dele, a esposa também foi alvo de agressões. (Veja vídeo ao lado)

O caso aconteceu no último sábado (5), onde era realizada a Feira do Livro de São Luís. "Eu vi os hippies sendo destratados e resolvi pedir para que parassem de agir com truculência. Um deles logo me perguntou: tu és advogado, por acaso? E eu respondi que por coincidência ou não, eu era, mas que não estava falando como advogado, mas como cidadão", disse Hugo Aurélio.

Segundo Hugo, foi o suficiente para que recebesse xingamentos e empurrões dos guardas municipais. "Houve o princípio de tumulto, mas depois a discussão arrefeceu. Eu já estava saindo de perto quando fui surpreendido. Estava de costas, fui puxado e então começaram a me conduzir para a viatura policial. Acho que o fato de ser franzino e negro influenciou na ação desmedida deles. Fui explicando que estavam agindo de maneira arbitrária e pedi para que não fosse colocado na 'caçapa' como um criminoso, pois tinha prerrogativas, não estava resistindo à prisão, não estava armado e não representava qualquer risco aos agentes. Ainda assim, me colocaram na parte de trás do carro da polícia. Confesso que tive medo de ser o próximo Amarildo", disse o advogado.
O secretário de Cultura, Francisco Gonçalves, presenciou a ação e ainda tentou intermediar, em vão. "Narrei o que tinha visto ao secretário de segurança do município, Breno Galdino, que me disse que o episódio seria apurado", afirmou Francisco Gonçalves.
Hugo Aurélio foi levado ao plantão Central da RFFSA, no centro de São Luís. Em uma rede social, o advogado Kristhian Heluy, que também presenciou toda cena, escreveu que na RFFSA houve "uma postura debochada e sarcástica por parte de alguns dos guardas municipais envolvidos no caso, com o nítido intuito de intimidar ou provocar a reação do Dr. Hugo e de sua esposa, que o acompanhava desde o início. Ouvimos piadas e provocações menosprezando o fato de o casal ter formação em nível superior e de o Dr. Hugo ser advogado", afirmou.

De acordo com Kristhian, entre 12 e 15 guardas participaram da ação. “Eu nunca tinha visto em nenhum evento de São Luís tantos guardas, assim, reunidos. Estava registrando o caso com meu celular e também fui agredido. Meu celular foi quebrado e por conta da situação registrei um boletim de ocorrência. O que nos afligiu foi o drama moral sofrido por aquela pessoa, que só estava exercendo sua cidadania. Se tinha procedência aquele tratamento agressivo contra os hippies, por que eles não foram presos?”, quetionou.
Após ser feito o registro do caso na RFFSA, Hugo Aurélio foi liberado. "A OAB já representou junto à Prefeitura de São Luís pedindo que seja instaurado um processo disciplinar para que haja responsabilização criminal dos envolvidos. Solicitamos também uma cópia de toda a documentação do procedimento para onde foi lavrado o caso. Com isso em mãos, acionaremos o Ministério Público do Maranhão. Não vamos aceitar isso. É bom frisar que guarda municipal só tem a função de defesa e guarda do patrimônio público municipal. Nada mais do que isso. Eles não têm que fazer policiamento ostensivo, essa função é da Polícia Militar”, concluiu o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional Maranhão, Mário Macieira.

A Prefeitura de São Luís se pronunciou por meio de nota. Confira abaixo:
"A Prefeitura de São Luís, por meio da Secretaria de Segurança com Cidadania (Semusc), repudia qualquer tipo de abuso ou violência. Ressalta que até o presente momento não foi comunicada formalmente sobre quaisquer irregularidades. Em caso de denúncia formal, a Semusc abrirá procedimento administrativo para apurar as devidas responsabilidades.
Sobre o referido assunto, a Semusc informa ainda que existe procedimento em apuração por desacato à Guarda Municipal.
A Prefeitura reitera a atuação da Guarda Municipal na defesa da sociedade, com o objetivo institucional de prevenir casos de crime, vandalismo e depredação do patrimônio público e aos funcionários, usuários e visitantes dos órgãos da administração municipal".

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