terça-feira, 15 de outubro de 2013

Sobre traições cirúrgicas

Uma matéria publicada pelo Estadão tem sido reproduzida com certa euforia no Maranhão. Ela fala de uma suposta reunião, no Palácio da Alvorada, na quinta-feira passada, entre os coordenadores da campanha de Dilma.

Segundo a reportagem, os avatares petistas (grupo formado pelos ministros Aloizio Mercadante, o marqueteiro João Santana, o ex-ministro Franklin Martins, o presidente do PT, Rui Falcão, além de Lula e Dilma) teriam decidido que o PT deve apoiar a eleição de Flávio Dino (PCdoB), para garantir um palanque forte para presidente no Maranhão. E chega a detalhes: O presidente do PT, Rui Falcão, teria sido contra, mas foi voto vencido.

A senha para a tomada de decisão (uma traição cirúrgica, conforme se lê) seria o fato de que Roseana Sarney (PMDB) não seria candidata ao governo, mas Luiz Fernando Silva, que não está bem posicionado nas pesquisas. O palanque patrocinado por Sarney seria contraproducente. Além disso, o apoio a Dino poderia impedir a aliança do PCdoB com o PSB, que fortaleceriam o palanque Eduardo Campos/Marina.
A matéria ainda traz outros elementos para a suposta "traição cirúrgica" ao clã Sarney:

a) Roseana estaria atrás nas pesquisas de seu concorrente ao Senado, Roberto Rocha (PSB);
b) O clã Sarney não confia em Washington, abrindo a possibilidade para que Roseana não deixe o cargo para concorrer;
c) A crise do PT, desde 2010, quando houve a intervenção do Diretório Nacional.
d) A cobrança do PCdoB, que é um aliado Nacional e tem no Maranhão o único Estado onde seria capaz de eleger um governador.
e) Dino poderia articular um palanque para o PSDB ou PSB no Estado, se fosse preterido pelos petistas novamente.
f) A traição se limitaria ao Maranhão, para não prejudicar a aliança PMDB-PT, e incluiria o apoio de Lula a reeleição de Sarney no Amapá.

Como essas informações chegaram até o jornal, ninguém sabe. Uma reunião como essa, entre um grupo restrito, supõe-se cercada de cuidados para que não haja vazamento de informações estratégicas para a disputa de 2014. A menos que seja um vazamento proposital, ou uma criação jornalística interessada.

Sobre cada um dos argumentos:

Roberto Rocha é o único candidato declarado ao Senado, por enquanto. Nem de longe supera a base social do grupo Sarney e o seu poder econômico e o seu poder de mídia. Para se contrapor ao grupo, Rocha teria que apresentar um curriculum da diferença. Mas como?

O fato de Roseana não ser candidata ao governo não muda em nada, em termos de aliança do clã com o PT nacional. Para o caso Whashington existem várias alternativas, que garantiriam no comando do governo um fiel cabo eleitoral.

Luiz Fernando Silva não está bem posicionado nas pesquisas, mas é muito cedo para um prognóstico desesperado, a ponto de se comprometer a governabilidade a nível nacional.

É improvável que o PCdoB embarque numa aventura com Eduardo Campos. Esse partido não funciona assim, historicamente. A partir da sua zona de conforto, apenas utilizará a candidatura de Dino para ampliar seu espaço no governo petista. O PT está careca de saber disso. É pagar pra ver.

A crise do PT, desde 2010, não é algo que mexe com os hormônios do núcleo duro petista. É mais provável que tenha sido uma crise calculada, para forçar a hegemonia do grupo de Washington no Estado. É só lembrar o tratamento  dispensado a Dutra e Manoel da Conceição, por ocasião da greve de fome.

Por último, não existe possibilidade política de que a suposta traição se limitaria ao Maranhão. Sarney não é burro e tem força política para comprometer a aliança do PMDB com o PT. Ele foi o grande avalista desta aliança, num período difícil para o PT.

A candidatura de Eduardo Campos e a sua aliança com Marina fragiliza a candidatura de Dilma, mas principalmente fortalece o poder de barganha do PMDB, no plano federal e nas disputas regionais.

Portanto, acho a matéria sem fundamento na realidade, mas completamente engajada a partir de um interesse político anti-petista.

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