terça-feira, 12 de junho de 2012

A exploração midiática dos cadáveres

Pobre Décio. Seus amigos fugiram. Restaram oportunistas que aproveitam da sua morte para captar acessos nos seus blogues ou nas suas rádios. Todo dia disseminam um boato, uma notícia sensacionalista. Ninguém conta mais quantas versões já surgiram para o assassinato.
Agora divulgam uma suposta queima de arquivo, porque um dos suspeitos presos, Valdênio José da Silva, foi morto.
Os argumentos são espantosos:
a) Valdênio teria sido morto por uma pistola ponto quarenta;
b) Valdênio seria suspeito da morte de Décio.
c) Valdênio foi morto como queima de arquivo.
Silogismo brilhante, para desinformados e oportunistas.
Valdênio ficou preso por mais de trinta dias, sem que a polícia encontrasse qualquer prova de envolvimento com a morte do jornalista. Por isso mesmo foi liberado. Ao pé da letra mesmo: a prisão de Valdênio foi ilegal.
Pistolas de uso restrito são hoje a principal causa de morte por arma de fogo. Elas são tão comuns nas mãos de marginais como cédula de dois reais. Acho até que a lei deveria mudar a expressão "uso restrito", quando se referir a elas.
Outro dia, outro boato criou sensação, com a prisão de dois traficantes paraenses. Obra da divulgação do retrato falado, que, depois de tanto tempo, divulgou traços fisionômicos que se aplicam a quase toda a população do Norte. Um dos presos também portava pistola ponto quarenta. Foi o suficiente para criarem novo alarme.
Agora a polícia vai ter que explicar a causa da morte de Valdênio. Sobretudo agora, quando afirma que não há pistolagem no Estado. O sistema de segurança vai ter que dedicar parte de suas energias também para esse assunto, alimentado por oportunistas de plantão. Não é um crime insolúvel, mas esse segmento precisa ficar quieto, para não tirar o foco das investigações.

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