quarta-feira, 4 de agosto de 2010

OS SINOS DOBRAM POR MAGNO CRUZ

Cada ser humano é único. Não teremos substitutos, nos defeitos e nas qualidades. Alguns nos fazem sentir maior a perda por suas qualidades. Magno foi mais que um militante pela causa do negro. Sua caminhada foi rica em contribuições políticas, nos mais diversos aspectos da luta social do Maranhão. Foi poeta, compositor, militante do CCN e do movimento negro, militante da luta das rádios comunitárias, militante da causa dos direitos humanos. Desta última contribuição quero me deter um pouco.

MAGNO foi sócio-fundador e técnico da SMDH, contribuindo para a criação do Projeto Vida de Negro, executado em parceria com o CCN. Antes disso, já perambulava pelo Estado, como voluntário da luta quilombola, visitando e cadastrando comunidades negras rurais. Sua afeição por essa luta impregnou definitivamente sua vida política
e afetiva, quando se casou com uma quilombola de Frechal, com quem teve dois filhos.

Na SMDH foi presidente do Conselho Diretor, defensor da tese de que SMDH e CCN não deveria se separar jamais. Poucas eram as lutas onde não estivesse presente Magno, com seu discurso firme, anti-racista e politicamente coerente. Da SMDH sempre foi um prestimoso parceiro, tendo, dentre nós, reconhecimento e afeto, sempre.

Magno foi especial. Foi a faceta pública na luta anti-racista no Estado. Nunca mudou de lado, nunca se vendeu. Nunca fez concessões aos poderosos de plantão.Por isso mesmo, deixou de ser partidário, insatisfeito com os rumos do PT, mas nunca deixou ser político, por excelência.

Além dessa profunda coerência política, Magno era humilde e carinhoso com todos. Era festejado pela juventude hip-hop, porque acolhia, sem preconceitos. Um coração revolucionário é eternamente jovem. Assim era Magno.

No Maranhão não se encontra fácil um Magno Cruz. Olhamos ao redor, como Diógenes de lanterna em punho, e perguntamos: quem poderia estar à altura de Magno?Bem Poucos.


Por último, quero relembrar minha outra grande perda, naquele mesmo cemitério do Vinhais: Célia Linhares. Também negra. Também militante. Também profundamente coerente com seus ideais. E... também vitimada pela mesma doença.

Sabia que Magno apreciava os poemas de Agostinho Neto. Oportuno, então, repetir o versos:

"Foi então que nos olhos em fogo
ora sangue ora vida ora morte
enterramos vitoriosamente os nossos mortos
e sobre as sepulturas
reconhecemos a razão do sacrifício dos homens
pelo amor
e pela harmonia
e pela nossa liberdade
mesmo ante a morte pela força das horas
nas águas ensanguentadas
mesmo nas pequenas derrotas acumuladas para a vitória"

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