terça-feira, 24 de abril de 2012

Um assassinato contra a democracia

Um crime é sempre uma afronta à democracia, porque violenta não apenas o Estado, mas também a comunidade dos cidadãos organizados na esfera pública.
Não adianta agora, por outro lado -  em nome da justiça que deve necessariamente ser feita - alçar o jornalista/vítima à condição de baluarte da democracia, o que nunca foi.
O crime contra Décio Sá deve indignar,como deve indignar qualquer crime,  sem fundamento em nenhum espírito de corpo, ou privilégio que esconda as mazelas do jornalismo marrom,
Não derramei lágrimas de crocodilo no velório, no qual não aceitaria confortavelmente comparecer. Sempre discordei dessa linha de jornalismo, que, no Estado, é composta por um pequeno número de gorilas diplomados.
Não me surpreenderia se ao cabo das investigações se descobrissem motivos bem menos nobres para o assassinato. Esperamos que não.
Quero apenas repisar que o crime de encomenda no Maranhão é mais antigo do que a estruturação das modernas organizações criminosas. Aqui, ele mais se refere ao crime-padrão dos coronéis, que habitam os feudos profundos do Nordeste e do Norte. É modus operandi antigo e cruel.
Organizações criminosas modernas não se importam de serem achincalhadas na mídia. São discretas e silenciosas. Preferem autoridades ou concorrentes que atravessam seus caminhos.
O crime de que foi vítima Décio é colonial. Representa apenas vindita infame. Fúria de algum poderoso da elite ou de alguma corporação ressentida com algum enxovalho.
Nenhum crime é perfeito, porque bandido geralmente é burro. Escolher a vida criminal já demonstra falta de intelecto. Nesse caso, também deixaram pistas.
Mesmo contando com o extraordinário desaparelhamento do nosso sistema de segurança pública, temos esperança de ver preso o mandante desse crime.
Se tivéssemos um sistema de segurança suficientemente organizado, dificilmente os criminosos escapariam daquele cenário geográfico. Poderiam já estar presos.
Contamos sobretudo com a coragem de alguma testemunha e o material de um punhado de câmeras de segurança particulares. Além disso, com o entusiasmo de alguns policiais, envolvidos com a investigação, que muito difere de abordagens violentas e sem sentido, como costumamos tomar conhecimento. Agora é a hora de polícia - no seu termo mais exato.

Atualização de 29/04/2010
Ps: Diante de um estranho movimento de indignação de setores da mídia, contra esse post, cabe enfatizar, embora não fosse preciso: saber ler e interpretar é obrigação, sobretudo de jornalistas. Quando há uma dificuldade nesse sentido, cabe investigar se o problema é do professor de português  ou de um bom psiquiatra.
Enfatizo, portanto:
a) que não generalizei a crítica a TODOS os jornalistas (que eu saiba, UM PEQUENO NÚMERO não quer dizer TODOS). Mesmo assim fiquei surpreso com o movimento coletivo de rejeição à dita expressão que, antes de tudo, confessa uma prática jornalística, senão apenas concorda com ela.
b) que eu não fiz uma crítica pessoal ao jornalista morto, mas a um determinado paradigma de jornalismo, coisa que outros blogueiros também o fizeram, sem receber o mesmo tratamento intimidatório, típico de gorilas e brutamontes.
c) que eu utilizei a expressão "gorilas diplomados", no sentido de truculentos e brutamontes, unicamente. É ver o contexto da frase e pronto. Gostaria de ver essa mesma preocupação com expressões politicamente corretas presente no cotidiano desse jornalismo brutamontes, que se apresenta  agora como "professor" de direitos humanos. Sequer os reconheço como interlocutores num debate desse tipo, tal a sua trajetória de afirmação da violência racial e institucional no Estado.
d) que a expressão "gorilas diplomados" cabe a qualquer profissional que atue de modo questionável, do ponto de vista ético, incluindo aqui a classe dos advogados, a qual pertenço. Não tenho nenhuma pretensão de defender acriticamente a atuação profissional de todos os advogados e nunca me posicionei dessa forma, dentro da OAB. Portanto, não se trata de uma guerra entre corporações. É triste, mas tenho que descer até esse nível para rebater a violência midiática deflagrada contra minha pessoa, cujos interesses passam ao largo de qualquer interesse em promover direitos humanos no Estado.
e) que reafirmo o direito de não apreciar esse paradigma de jornalismo, do ponto de vista pessoal, como cidadão que acredita que a Democracia pressupõe opinião pública bem informada.
f) que tal posição de nenhuma forma significa tolerar crimes dessa natureza (de pistolagem), nem tampouco significa não ficar indignado com a impunidade dos mesmos.
g) que, de igual modo, meu menor apreço por esse paradigma de jornalismo não significa que não estarei mobilizado para exigir a punição exemplar dos criminosos, o que farei independentemente do rugir dos leões, do rastejar dos crocodilos e da brutalidade dos gorilas.
Faço essa atualização porque percebo que pessoas continuam acessando essa postagem por intermédio de blogs de brutamontes da mídia, também. E para evitar que engulam a versão distorcida do texto, a partir da necessidade de defesa de interesses patronais em jogo.

8 comentários:

Anônimo disse...

Foi claro e verdadeiro.
Todo crime é igual e merece atenção, seja ele com o uso de uma arma de fogo, branca ou um veículo.

Marden Ramalho disse...

Verdade, pedrosa. O pânico está se transformando em uma neurose violenta.

Anônimo disse...

Tudo que o senhor falou é verdade, o crime em tela está tendo grande repercusão em razão da vítima pertencer ao grupo oligárquico dominante, razão pela qual o agente da polícia federal, que atualmente dirige a secretaria de segurança, dará total atenção frente o descredito que amarga tanto no seio das instituições policiais do Estado, bem como perante a sociedade organizada.

Anônimo disse...

ENQUANTO O ASSASSINATO DO JORNALISTA MOBILIZA TODO O APARATO DA SEGURANÇA DO ESTADO ( QUE CAI AOS PEDAÇOS), FEDERAL E SE NECESSARIO INTERNACIONAL COMO DISSE O SECRETARIO. EM BURITICUPU ONDE MATARAM COVARDIMENTE O RAIMUNDO BORGES - O RAIMUNDO CABEÇA UM CRIME DE ENCOMENDA TEM APENAS UM DELEGADO E DOIS POLICIAIS.

Anônimo disse...

Brilhante o seu texto. Ele expressa o pensamento geral sobre o Décio e seu "trabaho" e sobre a vontade de esclarecimento sobre os crimonosos e sua rigorasa punição.

Anônimo disse...

Você já leu o belo artigo escrito pelo jornalista Roberto Kenard no blog dele em sua defesa? O endereço do blog é este: http://www.robertokenard.com

Anônimo disse...

Palavras perfeitas para descrever o agora mártir e seu trabalho. Saiu da vida Pra entrar na história'aff! O cara é sensasionalista até depois de morto,só faltava ta vivo agora Pra tirar vantagem dessa situação, como em tudo o que fazia!!!

Andreson Lima disse...

Como estudante de jornalismo, não me sinto ofendido, foi uma das poucas matérias veiculadas embebidas pela sensatez, só discordo com o termo diplomados, já que boa parte não possui diploma nenhum... Embora, o diploma não faz um bom profissional, apenas ajuda.