terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Inspeção em Pinheiro



Os dois juízes, indicados pelo CNJ, neste momento, estão reunidos com o Secretário de Segurança Pública, Aloísio Mendes, para tratar da rebelião de Pinheiro. Apresentarão um relatório circunstanciado da inspeção, com documentos e fotografia.

Da minha parte, exponho algumas impressões:

a) o inquérito sobre a rebelião de Pinheiro precisa andar mais rápido, avançando para a oitiva de presos, que dispõem a colaborar. Presos somente colaboram se houver decisões que os beneficiem do ponto de vista processual. Não há ainda uma articulação com o Poder Judiciario e o Ministério Público para tanto.
b) Existem presos que se dispõem a colaborar. Nós ouvimos alguns. Eles têm informações privilegiadas sobre temas que precisam compor um único inquérito, centralizado, sob a coordenação de uma força-tarefa, com o objetivo de desbaratar uma organização criminosa em processo de estruturação. É necessário andar rápido.
c) A ausência de uma investigação centralizada, que possa reunir os pedaços de uma verdadeira colcha de retalhos, impede uma visão de perspectiva, de modo a esclarecer a origem das principais movimentações dessa organização, seus objetivos e lideranças.
d) Existe estreita vinculação entre as rebeliões, não apenas pela existência de presos que compõem o mesmo grupo, mas também no modus operandi, nos objetivos e nas relações que estabelecem com agentes públicos.
e) Por vezes, como acontece em Pinheiro, presos de outros locais de privação de liberdade sabem de informações sobre essa organização criminosa, e sobre rebeliões, que interessam a inquéritos diferentes, presididos por autoridades diferentes.
f) É comum que uma autoridade, por desconhecimento do conjuto, despreze informações que são importantíssimas para outros inquéritos.
g) É estranho saber que um preso do regime fechado em São Luís controle vários pavilhões da sua unidade prisional, desde antes da rebelião de novembro, e não tenha sido transferido para um presídio de segurança máxima. É muito mais estranho ainda constatar que os presos de Pinheiro sabiam disso e as autoridades do sistema não.
h) O sistema prova que se ressente de um sistema de inteligência eficiente, quando transfere para Pinheiro lideranças dessa organização, para participar de atos processuais, dando tempo aos mesmos para preparar uma rebelião, por intermédio do controle paulatino da cadeia.
i) Ramiro já havia participado de outra rebelião na regional de Pinheiro, no mês de julho, sendo tal fato amplamente noticiado pelas autoridades locais. Também participara da rebelião de novembro, no Presídio São Luís. Portanto, era preso de reconhecida periculosidade, que deveria receber tratamento diferenciado.
j) As inscrições, feitas à sangue, nas paredes da celas da regional de Pinheiro, apresentam o nome de SADAM, ANJO DA MORTE, como uma reverência a um líder, que, ao que se sabe, tem recebido tratamento privilegiado dentro do sistema prisional maranhense.
l) O novo modelo de rebeliões que se inaugura no Maranhão ostenta a carnificina como método, para chamar a atenção da opinião pública. Seus líderes fazem questão de barbarizar suas vítimas, como se mandassem um recado, para dentro e para fora dos presídios. Uma nova ordem se aproxima?

PS1: O cúmulo do terror como método aconteceu em Pinheiro. Além da decapitação, outras sandices ocorreram. Uma das vítimas teve seu pescoço aberto e o sangue bebido pelo algoz, em grandes goladas. Tudo apresentado como espetáculo. Mais tarde, a infusão maluca voltou em vômitos persistentes. Um olho arrancado de outra vítima, ainda agonizante. A utilização de varas longas de vergalhões de ferro para perfurar os corpos também foram utilizadas.
PS2: As inscrições nas celas devem dizer algo mais. Finda a rebelião, os presos ainda tentaram apagá-las, com água, mas foi inútil. O sangue humano é tinta forte.

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