Após a denúncia da OAB-MA contra o serviço velado da PM, apareceu uma suposta testemunha que teria visto o estudante numa boca de fumo, no bairro João de Deus. Ele agora percorre os programas de rádio e televisão, para achincalhar mais ainda a honra e a imagem do estudante vítima das torturas.
Segundo essa testemunha, ela mesma teria telefonado ao serviço velado, quando teria avistado o estudante na boca de fumo, distribuindo dinheiro e recebendo "malotes". Segundo ele, o fato teria ocorrido no dia 23 de janeiro (segunda-feira).
É de espantar.
Ângelo Calmon sequer precisa de advogado para se defender desse equivocado, certamente papagaio ensaiado (e muito mal ensaiado).
O depoimento desse moço nos meios de comunicação somente complicará a vida dos policiais, porque a partir dele já se pode chegar a algumas conclusões:
1. ele é uma testemunha preparada pela polícia, certamente pelos próprios agressores, porque sequer sabe a data em que o fato ocorreu.
2. ele certamente responderá na justiça, cível e criminalmente, porque não conseguirá nunca provar o que alega, pois o fato (a tortura) ocorreu em público, na porta da residência de uma familiar da vítima com a presença de muitos vizinhos e curiosos. Várias pessoas já estão se apresentando para testemunhar o ocorrido.
3. é estranho que essa pessoa disponha do telefone do serviço velado, porque, até onde se sabe, serviço de inteligência não pode distribuir ao público um telefone para denúncias diretas.
4. o testemunho dele não serve para defender o serviço velado da prática da tortura. Nem mesmo pessoas com envolvimento criminoso (o que não é o caso) poderiam ser espancadas e humilhadas desta forma, numa abordagem policial.
5. Ninguém pode se algemado dessa forma, para efeito de uma simples abordagem. Ninguém precisa apanhar para ter seu carro revistado. E nenhuma residência pode ser invadida sem mandado de busca judicial.
6. se ele realmente fez a denúncia, é assim que o serviço velado atende às denúncias que recebe?
O mal que o policial criminoso causa é pior que o mal que um criminoso comum pode causar. O cidadão submetido a uma experiência dessa tem a maior sensação de injustiça que se pode conceber. Afinal, é o servidor do Estado, que deveria protegê-lo, que lhe inflige o mal tamanho.
Ângelo deveria estar hoje cuidando dos inúmeros afazeres que tomam todo o tempo de um estudante no último período de direito. A começar, deveria estar se preparando para o exame de ordem, mas nem teria cabeça para se dedicar aos estudos, diante desse trauma.
Além do curso regular de direito, que inclui a apresentação de monografia, deveria estar se dedicando aos afazeres do escritório de advocacia onde exercita o estágio. Em vez disso agora anda correndo atrás de audiências e processos envolvendo os crimes de que foi vítima. Tem sua imagem constantemente exposta e caso não viesse a público denunciar, teria sido pior, pois seus amigos e vizinhos o teriam julgado como criminoso.
E também é triste ver um secretário de segurança defender esse modelo de policiamento, com o argumento de que seria eficiente. Qual o serviço eficiente que pagaria o preço de arbitrariedades como essas? Qual o cidadão poderia avalizar a atuação de um modelo de polícia que reproduz o totalitarismo das ditaduras e dos Estados policialescos?
Quem de nós estará a salvo de abordagens desse tipo?
Estava hoje na OAB refletindo sobre tudo isso, enquanto via Ângelo se defender da acusação da testemunha tresloucada, quando nova vítima do serviço velado adentra a sala. Desta vez um mecânico, do Maiobão, deficiente físico. Uma outra história para contar e uma outra representação a fazer. Detalhe: um dos policiais que atuaram no caso do mecânico é o mesmo que agrediu o estudante. Contra ele já existem dois processos criminais pelo crime de tortura.
Será que esse povo não se cansa?
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