terça-feira, 26 de julho de 2011

Grampo à inglesa


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Felipe Marra Mendonça



26 de julho de 2011 às 9:07h


Ouvir mensagens de celulares alheios, como fizeram os jornalistas do News of the World, é mais simples do que parece por Felipe Marra Mendonça. Ilustração: Daniela Neiva

O tabloide britânico News of the World fechou as portas no domingo 10 de julho, depois de 168 anos de circulação, após o escândalo dos grampos ilegais. Os jornalistas passaram anos a fio acessando as caixas-postais dos celulares de várias personalidades britânicas, soldados e também de Milly Dowler, assassinada depois de ter sido sequestrada em Walton-on-Thames, em 2002. Foi a exposição desse último caso que levou ao furor por que passa o país nos dias atuais.

O que os jornalistas do News of the World fizeram pode parecer complicado pelo nome dado à prática ilegal no Brasil, “grampo ilegal”, e no Reino Unido, hacking. Ele não envolvia qualquer grampeamento de linhas telefônicas, como o termo dá a entender. Os jornalistas não conseguiam ouvir conversas telefônicas, eles apenas ouviam as caixas de mensagens das vítimas para poder bisbilhotar suas intimidades.

Infelizmente o crime é relativamente simples, mesmo que atualmente as mensagens de texto sejam mais utilizadas para deixar um recado do que uma mensagem de voz. O principal obstáculo de qualquer um que queira ouvir as mensagens da caixa postal de outra pessoa é conseguir mascarar o número telefônico original. As operadoras de telefonia celular, normalmente, dão um número para que o assinante ligue e acesse sua caixa postal. O serviço recebe a chamada, identifica o número telefônico que fez a ligação e o conecta à caixa postal correspondente. Existem programas que fazem chamadas e enviam qualquer número telefônico como identificação, o que possibilita o acesso à mensagens alheias. Um deles, provavelmente, facilitou o trabalho do pessoal do News of the World.

Outro truque é simplesmente ligar para o número da pessoa de quem se quer ouvir as mensagens e torcer para que ela não atenda. Mesmo que a vítima ainda seja protegida por uma senha, pouca gente costuma mudar o código-padrão estabelecido pelas operadoras. Uma busca rápida pela internet providencia as senhas-padrão das companhias brasileiras e é de esperar que a grande maioria dos clientes não a tenha trocado, ou por conveniência ou por preguiça. Talvez seja a hora de trocar a senha por algo mais complicado. É certamente melhor do que perder a privacidade.

Felipe Marra Mendonça

é jornalista e escreve de Londres para CartaCapital

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