sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Emoção, povo na rua e pressão popular marcam o lançamento da Relatoria de Conflitos Fundiários do Maranhão


Por Alice Pires

A Rede de Combate aos Despejos no Maranhão lançou ontem (18/11) a Relatoria Estadual de Conflitos Fundiários. O ato ocorreu na comunidade Menino Gabriel (ex-Bob Kennedy), onde há um ano, houve um brutal despejo que atingiu dezenas de famílias. Logo após o ato de lançamento, a comunidade, apoiada pelas entidades que compõe a Rede, partiu em comboio até a prefeitura de Paço do Lumiar para exigir da prefeita Bia Venâncio que faça o repasse de R$ 60 mil reais, necessário para a regularização fundiária de Menino Gabriel. O recurso é fruto de compromisso assumido no dia 18 de dezembro do ano passado e que previu um repasse de R$ 90 mil e até agora só foi repassado R$ 30 mil.

O clima ficou tenso na prefeitura. Um segurança de Bia Venâncio sacou de um revólver. Representantes da Rede de Combate aos Despejos conseguiram evitar o pior. Depois, de posse de um microfone, os manifestantes pediram que a prefeita aparecesse. Mas, imediatamente tiveram a energia interrompida para impedir o uso do som.

“Estão desligando a energia, para não usarmos o microfone, mas quero dizer que podemos usar essa energia, porque ela é paga com nossos impostos, mas isso não vai nos intimidar, pois ainda temos nossa voz” enfatizou Reginaldo, integrante do Quilombo urbano. “Vamos ficar aqui até que saia uma decisão sobre o depósito, o prédio da prefeitura é um espaço público, não estamos invadindo, e também não vamos entrar em gabinete, exigimos que venham negociar conosco aqui” disse o advogado Rafael, da Comissão de Direitos Humano da OAB.

Já no horário da tarde o sub-procurador de Paço do Lumiar, Luiz Edmundo Coutinho apareceu para negociar. Ele assumiu o compromisso de fazer o depósito de 60 mil reais no dia 13 de dezembro. Depois de fechar o acordo os moradores voltaram para a comunidade onde com uma grande festa comemoraram o aniversário do menino Gabriel que completava um ano de idade.

Emoção da mãe do menino Gabriel

No inicio da manhã de ontem foi realizada uma caminhada pelo local onde, no ano passado, aconteceram as demolições. Muitos moradores, lembrando da violência sofrida, se emocionaram ao passar pelos locais das casas demolidas. “Eles não respeitaram ninguém! Até uma igreja evangélica foi derrubada, mesmo estando fora da área do despejo” disse Luciano Aguiar, presidente da Associação de moradores.

Por conta da resistência popular, a comunidade continua morando na mesma região. O antigo nome (Bob Kennedy) foi mudado porque uma criança recém nascida, chamada Gabriel chegou da maternidade no dia do despejo. Mas, quando sua mãe chegou ao local, descobriu que não tinha mais casa para morar. Giullene Sousa Santos, mãe de Gabriel ainda se emociona muito quando lembra desse dia: “Eu não sabia de nada, tive complicações no parto, quando voltei da maternidade, minha filha de 7 anos me abraçou chorando e disse: mãe derrubaram nossa casa, fiquei tão desesperada que desmaiei ali mesmo.”



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