quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Coronelismo e esquerda furtiva

Governar é obra de grupo. É um mecanismo de gestão que não pode ser verticalizado a tal ponto que uma única pessoa seja o responsável por tudo. Por isso, a importância de qualificar o eleitor, antes de qualificar o voto. Ele precisa compreender não apenas como funciona o governo, mas, principalmente, como funcionam os grupos de interesse que o disputam.
Não há salvadores da pátria, embora o marketing político insista em alienar o eleitor dessa realidade que se impõe. O gestor a ser eleito sempre representará o grupo, com a colcha de retalhos de seus interesses. As campanhas políticas têm o objetivo de escamotear a função do coletivo, na disputa pelo poder.
No Maranhão, os dois principais grupos que se digladiam atualmente reforçam nomes, individualidades, sobretudo porque a função dos grupos a que pertencem apresenta-se como nociva ao interesse público, a partir de uma análise mais criteriosa da política local.
Os dois vínculos principais que sustentam a existência desses dois grupos políticos no Maranhão residem no plano federal e local. Não é possível refletir realisticamente descurando desses elementos de poder, relacionados aos grupos radicados no governo federal e nem sempre distribuídos com a mesma lógica política no plano local.
A coalização governamental no plano federal já revela esgotamento do modelo político e econômico adotado. Operou a ruptura com as lutas sociais e se debate com a perspectiva do retorno da inflação. Fracassou conscientemente nas duas frentes que ornamentavam o discurso da solidariedade para com os mais pobres e da eficiência de gestão.
Alguns desses partidos que compõem a base de sustentação do governo petista no plano federal movimentam-se contraditoriamente no plano local. Entrechocam-se a partir da disputa regional, como é o caso do PCdoB, PSB, PDT e de setores do PT. Essa esquerda furtiva (que flerta com a bancada ruralista e com a bancada cristã-evangélica) não vê problema algum em ser oposição ao Sarney aqui e não ser oposição a ele no governo federal. Também não fica chocada com o fato de Lula e Dilma declararem voto em favor do grupo Sarney, durante as disputas regionais pelo poder. O objetivo deles não é ideológico. É simplesmente derrotar o grupo sarney. Uma peça de discurso, que figura como ornamento retórico, antes de qualquer coisa, porque sequer reflete as implicações disso para a renovação das práticas políticas subjacentes a permanência oligárquica no poder.
No plano local, essas divisões não refletem dissenso ideológico, mas simplesmente uma disputa pelo poder. A terceira via, representada por Marina não pretende fazer a disputa ideológica, nem aqui e nem no plano federal. Reúne insatisfeitos com fórmulas de repartição dos nichos de poder, internamente às duas principais divisões políticas no país: PSDB e PT. Somente isso. O floreado do discurso pretende escamotear a clássica polarização direita-esquerda, exatamente para ficar com a primeira, o chamado eco-capitalismo.
A esquerda furtiva (o PPS já deixou de ser esquerda há muito tempo, embora no plano local, Eliziane Gama imponha solitariamente ao partido uma plataforma à esquerda) apresenta, nos seus últimos rearranjos uma novidade peculiarmente maranhense. Ela conseguiu trazer para seu núcleo dirigente expoentes do patrimonialismo corrupto já reinante no grupo oligárquico. Esses políticos oposicionistas desenvolveram práticas de gestão siamesas ao coronelismo local e afirmam carreiras políticas promissoras a partir da corrupção e da improbidade administrativa. Suas trajetórias fazem entrever que a ambiência coletiva que se projeta como alternativa ao grupo Sarney já está contaminada pela mesma e endêmica virose.

Um comentário:

Unknown disse...

Por isso, caro Dr. Pedrosa, que o Papa Francisco (porta-voz da CNBB), não enxerga fácil solução para nosso imenso Brasil e anima a todos, principalmente à juventude, a continuar se manifestando (de forma pacífica!) nas ruas e cidades em busca de uma sociedade + justa e fraterna, menos desigual...!!!
Acredito, em fim, que as lideranças religiosas poderíamos ajudar muito nesse mesmo sentido cobrando ONESTIDADE de nossos fieis...!!!
Um cordial abraço para tod@s...!!!