Atualizado em  28 de março, 2013 - 18:11 
(Brasília) 21:11 GMT 
 
Superlotação no sistema prisional é uma das principais críticas 
da ONU ao Brasil
Um grupo de trabalho da ONU criticou 
nesta quinta-feira o "uso excessivo da privação de liberdade" como punição a 
crimes no Brasil e deficiências na assistência jurídica a presos pobres no 
país.
As críticas constam de texto divulgado ao fim de 
uma visita de dez dias do grupo pelo país, a convite do governo brasileiro. No 
documento, a equipe se disse “seriamente preocupada” com o uso da privação de 
liberdade no Brasil.
O governo brasileiro não se pronunciou sobre as 
críticas.
"O Brasil tem uma das maiores populações de 
prisioneiros do mundo, com mais de 550 mil pessoas na prisão. O que é mais 
preocupante é que cerca de 217 mil detidos aguardam julgamento em prisão 
preventiva."
Segundo os peritos, prender acusados ou condenados 
por crimes é a punição mais usada no país, embora o Brasil seja signatário de 
acordos internacionais que fornecem proteção contra a privação arbitrária de 
liberdade.
O grupo elogiou as alterações no Código de Processo 
Penal em 2011, que tratam a prisão preventiva como o último recurso aos que 
cometeram crimes com pena de prisão inferior a quatro anos.
Os especialistas consideraram positivas, ainda, 
mudanças na Lei de Execução Penal que reduzem sentenças de prisioneiros que 
busquem educação.
No entanto, a equipe observou uma "tendência 
preocupante" de que a privação de liberdade está sendo usada como primeiro 
recurso, em vez de último. O grupo alertou ainda para o aumento de 33% na 
proporção de indígenas presos em relação à população carcerária geral nos 
últimos anos.
“O grupo de trabalho também foi informado que as 
pessoas indígenas foram muitas vezes discriminadas tanto em relação a medidas 
preventivas aplicadas quanto em relação à punição imposta, o que muitas vezes 
envolveu uma prisão dura.”
A equipe, que visitou centros de detenção em 
Brasília, Campo Grande, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo, diz ter 
encontrado pessoas presas em razão de infrações leves, que deveriam ter sido 
punidas com medidas alternativas.
Os especialistas condenaram ainda as dificuldades 
para que brasileiros pobres tenham assistência jurídica. Segundo o grupo, boa 
parte da população carcerária no país não tem condições de pagar advogados, 
dependendo de defensores públicos.
No entanto, o documento diz que o número de 
defensores no país é inadequado. Há inclusive Estados – como Santa Catarina, 
Paraná e Goiás – onde não há nenhum defensor público.
“A sobrecarga de trabalho dos defensores públicos 
também é um problema crítico”, afirma o grupo, que cita casos em que 
profissionais lidam com até 800 casos ao mesmo tempo.
“Mesmo em Estados onde há um sistema de defensoria 
pública, muitas vezes as áreas rurais ou do interior não têm defensores públicos 
atendendo as pessoas em detenção.”
O longo período que antecede o julgamento de 
acusados no Brasil foi outro problema apontado pelos especialistas, que citam 
casos de presos que esperam por julgamento há anos.
A equipe da ONU expressou ainda preocupações com 
prisões de dependentes de drogas. “O grupo de trabalho está seriamente 
preocupado com a informação de que estas medidas também são fortemente aplicadas 
devido a futuros grandes eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos 
Olímpicos de 2016 que o Brasil sediará”.
Na visita, a delegação se reuniu com as autoridades 
do Executivo, Legislativo e Judiciário nas esferas federal e estadual e com 
organizações da sociedade civil.
O grupo, integrado pelo chileno Roberto Garretón e 
pelo ucraniano Vladimir Tochilovsky, foi acompanhado por equipe do Escritório da 
ONU do Alto Comissariado para os Direitos Humanos em Genebra.
A visita gerará um relatório, a ser apresentado ao 
Conselho de Direitos Humanos da ONU em 2014.
Contatado pela BBC Brasil, o Ministério da Justiça 
não comentou as críticas da delegação da ONU.
 
 
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