domingo, 7 de abril de 2013

A ressematização dos direitos humanos na bandeira fundamentalista evangélica

O cenário agora está mais claro. Antes, um segmento evangélico fundamentalista defendia suas teses, protegidos por paredes de templos, que pareciam inofensivos. Gradativamente, esses locais pretensamente sagrados, multiplicaram-se nos grotões e nas periferias dos centros urbanos, arrebanhando os excluídos do sistema. Com técnicas agressivas de marketing, consolidaram-se por intermédio de interpretações peculiares da bíblia e por promessas de prosperidade, geralmente dirigidas para amplas massas de desempregados e pauperizados. Seus gritos lancinantes de louvor confundem-se com o desespero e angústia dos deserdados do sistema. Por isso, as ferramentas regulares de formação da opinião pública não os atingem. Antes, pelo contrário, soam como produtos da danação e das tentativas de domínio do mundo por satanás. O Pastor se transforma com facilidade no único instrutor e orientador, capaz de realizar miraculosidades. Quando tais preleções atingiam apenas pequenos grupos sectários, não era problema. Passa a ser problema para as instituições quando tais pregações fundamentalistas alcançam perigosamente, e cada vez mais, grandes multidões. A pretensões de sequestro do Estado eram visíveis, mas ninguém quis se aborrecer com isto. Começando pela ocupação crescente das concessões públicas de rádio e TV e, depois, passando pela participação cada vez mais ativa nos espaços de representação popular. E aqui, o fundamentalismo não é sincero, mas simplesmente oportunista. Basta dizer que mais da metade da bancada evangélica no Brasil enfrenta processos na Justiça. Sua táticas e alianças no Congresso nada têm de cristãs, daí a aproximação perigosa com a bancada ruralista, desde a votação do Código Florestal até a ocupação da presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara. A ocupação dos espaços públicos é o sinal de que o discurso fundamentalista quer galgar novos patamares e está perdendo a timidez de quem não domina quase nenhum assunto da ordem do dia na República. Dilma sabe disso, porque também foi vítima, durante o último embate eleitoral, muito embora tenha assumido a defesa do ponto de vista deles, por ocasião da polêmica do kit anti-homofobia. E essa esquerda de coalização nem desconfia que o grande adversário da barbárie fundamentalista não é Marx, mas os direitos humanos, como programa da ética pública do nosso tempo. Aldo Rebelo sabe disso, desde a demarcação da terra indígena dos Yanomâmi e Raposa Terra do Sol, até a votação do Código Florestal. A teoria dos direitos fundamentais avançou mais nos tribunais do que na cabeça dos velhos stalinistas, como era de se esperar. E as decisões recentes do Supremo Tribunal Federal também motivaram a nova estratégia de assalto às instituições republicanas, que tocaram em temas tabus e funcionam como pilastras de sustentação desse estranho mundo evangélico: casamento homoafetivo, aborto, religiões de matriz africana, etc. Para cada um deles existe uma tese bíblica, extraída a fórceps da garganta de cada tresloucado pastor de infinitas e multifacetadas agremiações. Corremos risco? Homens (sim, porque até a independência das mulheres se transformou em alvo desse discurso), brancos, heterossexuais, cristãos e proprietários certamente que não. Assim como o nazismo, o fundamentalismo cristão se esconde no sagrado direito à opinião das constituições do mundo civilizado. E também no direito ao culto religioso. Confundem fé e opinião com ferramentas para práticas de crimes e de negação de direitos de minorias vulnerabilizadas. Quem se opõe a isso? os direitos humanos, não a esquerda ambidestra. E não há esquerda possível se não levarmos o discurso da defesa dos direitos humanos até as últimas consequências. Por isso, a necessidade agora de ressematizar a expressão, sob a ótica fundamentalista. Um novo movimento de direitos humanos está em curso, não tributário das convenções internacionais e do holocausto nazista. Esse movimento combate a pedofilia, por exemplo, porque associa a prática ao segmento homoafetivo.
Feliciano denuncia parte dessa estratégia insana. A recente premiação do deputado por uma suposta entidade de direito humanos não demorou a cair por terra, com uma força de denúncia pela mídia como nunca se vira desde 2009, quando a referida entidade passou a ser denunciada por suas práticas verdadeiramente demoníacas. Incapazes de vencer o impetuoso movimento por direitos humanos no mundo, passaram a imitá-lo, a partir de discurso e prática falsos. A Confederação Brasileira de Direitos Humanos, o Conselho Federal de Direitos Humanos e o Conselho Nacional de Direitos Humanos são gêmeos monozigóticos. Na Bahia e em Brasília, onde atuaram, engordaram seus currículos com práticas estelionatárias e até denúncias de estupro. Em 2009, algumas denúncias repercutiram em periódicos locais. Essa turma simplesmente enganava e ainda continua enganando as pessoas de boa fé. Cobram taxas para ministrarem cursos, emitem diplomas de delegados, distribuem insígnias e atuam como se fossem agentes públicos com poderes de polícia. Em Brasília, conduzidos por viaturas semelhantes às das polícias, tentaram participar da 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos. No dia 21 de maio, a Polícia Federal fechou uma suposta delegacia de direitos humanos mantida pelo CFDH. Durante a operação, os agentes apreenderam uniformes, coletes, carteiras funcionais, distintivos e adesivos para veículos com símbolos que remetem a atribuições de órgãos públicos. O Ministério Público Federal em Brasília promoveu ações contra as referidas entidades. Aqui em São Luís, o Conselho Nacional de Direito Humanos ressurgiu sob a liderança de um outro Pastor, chamado José Sampaio Júnior, desenvolvendo práticas similares, inclusive pelo uso de insígnias e a invocação de vínculos com a Secretaria Nacional de Direitos Humanos, da Presidência da República. Sampaio já fez inspeções em hospitais e batalhões de polícia, com grande mobilização da mídia local. Uma comunidade no interior da ilha denunciou, junto à Comissão de Direitos Humanos da OAB-MA, que Sampaio, de arma em punho e acompanhado de várias viaturas policiais, teria levado a efeito um despejo forçado, com demolição de casas e tudo. Esses fatos foram objeto de postagem aqui. Por último Sampaio, que se dizia amigo do Vice-Governador, foi detido e logo depois liberado, quando tentava a transferência de um presidiário, acusado pelo crime de tráfico. É óbvio que ele não vai parar, afinal, a cruzada contra os direitos humanos foi deflagrada.


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