domingo, 3 de abril de 2011

Luto por Ivan



Ontem fui ao velório de Ivan. Fiquei até à meia-noite, junto com amigos, das entidades e de povoados. Contabilizei quantos de nós já tombaram e as baixas do movimento negro, que no intevalo de apenas sete meses, perdeu dois dos seus maiores militantes, da linha de frente: Magno e Ivan.

Durante o velório, várias pessoas do interior do Estado estavam presentes. Eram moradores de comunidades quilombolas que, ao saber da triste notícia, fizeram o esforço incomum de vir até São Luís, para prestar as últimas homenagens ao amigo.

Durante a trajetória de Ivan, uma característica presente foi o estabelecimento de relações muito afetivas com os quilombolas. Por isso, não raras vezes Ivan era escolhido padrinho de crianças dos povoados.

Em Frechal, onde o trabalho do PVN começou, Magno Cruz chegou até a se casar. O Povo de Frechal não apenas foi beneficiário de uma intervenção fundiária intedisciplinar, mas também passou a integrar o movimento negro, frequentando, como militantes, as atividades do CCN. E assim, vários outros povoados negros também.

Por isso, estavam muitos moradores de Frechal, ao lado do caixão do Ivan, balbuciando o terço entre soluços de pesar. Choramos juntos, assim como nos alegramos juntos, durante toda a caminhada muito digna de Ivan, sobre a terra. Na despedida do nosso combativo parente não poderia ser de outro modo.

No velório de preto não apenas se derrama em lágrima a dor da perda. Ivan queria morrer digno das homenagens típicas dos pretos do Maranhão. Havia comida e tambor. No intervalo do choro, conversávamos alegremente sobre outros assuntos, como se Ivan estivesse presente, ao nosso lado. Alguns de nós acredita que ele realmente vai estar.

Ivan morreu afirmando nossa identidade, em tempos de racismo e intolerância religiosa. Sua luta traduz o anseio por uma sociedade onde não seja preciso perdir desculpas por ser diferente. Onde o genocídio étnico e cultural da colonização não se traduza em vitória definitiva sobre os povos que ainda ousam resistir. Onde os que resistem sejam ouvidos e tenham iguais direitos, assim como proclama a Constitução da nossa República Federativa.

Adeus, Ivan! Foi um grande prazer cruzar nossos caminhos durante essa ligeira passagem! Axé!

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