quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Inspeção para mediar o motim em Pedrinhas, de novo


Hoje, por toda a manhã e tarde, o Complexo Penitenciário de Pedrinhas assistiu mais uma onda de quebra quebra na cadeia. Como era previsto, os presos do Presídio São Luís II, romperam as grades das celas e destruíram todo um pavilhão. O movimento rapidamente se espalhou para o Presídio São Luís I e para a CCPJ.

A pedido do comandante da Força Nacional, nos dirigimos à Pedrinhas, mas uma vez, para mediar o conflito, que já arriscava a repetir mais uma tragédia de graves repercussões. Na CCP, mais uma vez tive que aguardar a determinação superior para entrar. Foi preciso o major da Força Nacional vir me buscar, na entrada da unidade prisional.

Dentro da CCPJ, a situação estava aparentemente sob controle, mas os presos exigiam falar comigo. Os dois pavilhões, controlados respectivamente pelo Bonde e pelo PCM estavam ocupados por homens da Força. Encontrei os presos nos corredores, visto que algumas celas tinham sido quebradas.
Os presos queriam apenas ser ouvidos, ali.
As mesmas queixas, desde que a PM entrou no presídio. Um rosário de reclamações, já por demais conhecidas das autoridades:
a) presos necessitando de atendimento médico;
b) presos reclamando que não há remédios;
c) presos reclamando do péssimo tratamento dispensado pela PM, especialmente pela tropa de choque;
c) presos reclamando das restrições para a entrada de alimentos trazidos pelos seus familiares.
d) alguns presos lesionados, por balas de borracha, um deles no olho.







O motivo do motim, porém, estava claro: solidariedade ao movimento deflagrado no Presídio São Luís II. Era a hora.

No pavilhão do PCM, vários presos provisórios (a grande maioria) reclamando da demora na justiça. Presos provisórios com mais de um ano de cadeia, sem uma única audiência realizada. Estavam sem água, desde o início do dia. Reclamaram do mutirão, que não dá retorno sobre os processos. Eles não ficam sabendo de nada, sobre seus direitos e sequer sabem alguma coisa sobre suas expectativas de liberdade.





No Presídio São Luís, novo impasse na entrada. Do meu lado, o major da FN reclamava da demora para abrir. Nem ele foi respeitado, por causa da minha presença. Tive que aguardar, sob o olhar curioso dos familiares de presos. A grande maioria, mulheres. Elas queriam informações sobre o que teria ocorrido dentro do presídio. Ouviram os estampidos e a algazarra do motim. Um repórter veio me perguntar se alguém havia morrido, porque havia um boato correndo...

No portão da entrada, conversei com dezenas de mulheres, com aparência cansada e triste. Estavam aguardando informações, mas não acreditavam na PM e nem nos profissionais que trabalham nos presídios.  Um representante dos familiares dos presos foi autorizado a entrar, mas mesmo assim, muitos duvidavam de que não houvesse mortos e feridos graves.

Tive paciência para aguentar o novo desrespeito, na entrada. Não fiquei por mim. Ouvi um PM berrar de dentro que somente a Força poderia entrar. Estava se referindo a mim. Alguém, depois de alguns minutos, veio me buscar, até a sala do diretor do Presídio São Luís I.  Encontrei vários servidores do escalão superior da Sejap, almoçando tranquilamente. Conversamos um pouco e depois pedi para ir até o local do motim. Familiares de presos queriam que novos representantes entrassem comigo. Consegui negociar a entrada de duas mulheres, jovens.

Subi na parte superior do pavilhão, guiado pelo diretor do Presídio São Luís II, para ter uma visão panorâmica da quebradeira e da situação dos amotinados, já contidos. Tudo quebrado, uma demonstração de força, apesar da presença da PM. Rapidamente deu para constatar que uma nova tragédia não se concretizou por intervenção divina, apenas.

Os presos pediram para falar comigo, de novo, acenando para a comitiva recém chegada. O major da FN de novo entrou em cena e adiantou a negociação. Era preciso, apenas a repressão tinha sido feita. Faltava algo mais para baixar a pressão da cadeia.

Orientei para que o pavilhão indicasse os representantes para falar comigo e o diretor. Era necessário legitimar alguém na confusão instalada, apenas para racionalizar a escuta, fora do possível e provável tumulto de uma negociação em pleno pavilhão, cheio de homens revoltados com a repressão, que gerou alguns feridos.

Vieram dois. A princípio era apenas um, mas o pavilhão exigiu quatro. Meio termo. No início, falas duras, ronco da cadeia, de homens sem destino. O diretor queria rebater, segurei ele, para não subir a tensão, mais do que já estava. Falas demoradas, necessárias. Ouvi de pé, eles sentados, nas duas únicas cadeiras da sala.

Para mim, o recado foi dado. Mais respeito e mais diálogo. Só. O resto, era o resto. Do lado do presídio, uma possível detecção de objeto proibido, no corpo de uma mulher de preso. Do lado dos familiares de presos, uma divergência quanto a quantidade de gramas nos pacotes de leite, autorizados a entrar.

O recado mais impressionante um dos representantes dos presos disse, em alto e bom tom: se nós quisermos, matamos muita gente de novo aqui. Não adianta botar PM. Um aviso, não?

Desta vez, foi possível esgotar a negociação. O diretor e o secretário adjunto contribuíram. O major da FN, mais uma vez, demonstrando o novo ciclo desta tropa, em terras maranhenses. A tropa de choque da PM, mais uma vez, deixando a desejar.

Governadora, a senhora escapou de ser responsabilizada por uma nova tragédia em Pedrinhas.



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