quarta-feira, 5 de abril de 2017

O Acerto de Contas

Sobre o cinismo e a incoerência. Quando Marx falava da necessidade de se diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz. O impulso libertador não pode conviver com as contradições do cinismo, com o discurso progressista e a prática reacionária. Paulo Freire dizia que o que se faz é o que ajuíza o que se diz.

A coerência traduz exemplo, e é a validade ética da política. O socialismo tem fundamentos importantes para renovar a política. Resta saber quem invoca esses fundamentos apenas como discurso desgarrado da prática.

A crise ética do PT não diz respeito apenas ao uso do Caixa 2, o que ocorreu de fato.

Essa crise ética não pode ser resolvida no plano moral apenas, porque diz respeito ao distanciamento de alguns fundamentos ideológicos e teóricos.

Infelizmente, a virada ideológica do PT, ainda se reflete sobre toda a esquerda e na luta pelo socialismo de modo geral.

Não que a ética seja um pressuposto apenas para os partidos socialistas. Mas as acusações que pesam sobre o PT e seu campo político diz respeito a um componente ético fundamental para os socialistas: a transformação da realidade.



E uma realidade que precisa ser transformada no Brasil é exatamente a das praticas antiéticas e corruptas dos partidos políticos. O PT fez o caminho inverso, ao ceder aos apelos do caixa 2.

Do caixa 2, para as concessões explícitas à burguesia agrária, ao populismo penal, ao fundamentalismo religioso e ao neoliberalismo da gestão econômica foi um pulo.

Portanto, a crise ética convida à reflexão, na beira do caminho de volta, onde Lula emerge como alternativa de nada - a menos que o horizonte seja apenas o social liberalismo -, se não houver autocrítica.

Precisamos entender qual seria a proposta de um novo governo Lula, diante da experiência dos treze anos no poder, com seus avanços, mas sobretudo com seus problemas.

É preocupante essa euforia autista, que pretende reproduzir o presidencialismo de coalização, impossível na conjuntura atual.

Uma grande bancada de esquerda exigirá um acerto de contas com os fundamentos. Seria uma espécie de Páscoa do PT e seus aliados, recorrendo novamente a Paulo Freire.

Se isso já tivesse ocorrido, o povo já estaria nas ruas. Mesmo.

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