quarta-feira, 22 de março de 2017

GERAR, GERÔ, GERANDO






Ocorreu hoje, no Centro de Criatividade Odilo Costa Filho no Reviver desde as 17:00, uma grande homenagem dos amigos de Jeremias Pereira da Silva, o Gerô. Ele foi espancado até a morte por policiais militares na tarde do dia 22 de março de 2007.

O artista popular maranhense, Jeremias Pereira da Silva, o Gerô, se transformou no símbolo de uma das principais bandeiras da luta contra a tortura no Maranhão, por intermédio de uma Lei (Lei nº 8.641/2007, de autoria da então deputada estadual, Helena Heluy), que criou o dia Estadual de Combate à Tortura.

Neste 22 de março, a data completa 10 anos da morte do cantor, compositor e cordelista, o amigo e parceiro,  Moizés Nobre, idealizou uma homenagem, com uma roda de conversa e  a realização do show “Gerar, Gerô, Gerando”, um tributo a Gerô, que aconteceu às 17h, no Odylo Costa Filho.

O artista foi morto aos 46 anos, quando estava sob custódia estadual, após ser confundido com um suspeito de assalto. Gerô foi barbaramente espancado por policiais militares, não resistindo aos ferimentos.

Em 2016, a familía de Gerô, em acordo judicial, teve direito a receber uma indenização no valor de R$ 250.748,76, que está sendo quitado em seis parcelas mensais. A família ainda é auxiliada, atualmente, por pensão vitalícia, concedida à viúva de Gerô, por meio de lei estadual editada pelo então governador Jackson Lago.

A data, além de relembrar o trágico episódio, representa a luta contra a violência policial no Estado. Se a lei federal contra a tortura (Lei nº 9.455/97) refere-se à tortura de modo geral, incluindo a tortura praticada por particulares, o dia 22 tem em vista uma determinada prática da tortura, praticada por agentes do sistema de segurança do Estado.

Nesse sentido, na roda de conversa, lembrei que a tortura não é um fenômeno isolado dos programas de segurança pública. Ela emerge no contexto de uma determinada visão de policiamento que promove a ruptura com princípios básicos de direitos humanos, violando garantias mínimas do cidadão, desde a abordagem até a custódia.

Após o esfacelamento da tentativa de implantação do programa de segurança cidadã, em pleno governo democrático e popular, assistimos uma regressão progressiva nas políticas de segurança pública, reafirmando a repressão sobre a prevenção, a beligerância sobre a investigação, culminando com o encarceramento em massa e o extermínio da juventude pobre, negra e moradora das periferias.

Chamei a atenção para o ovo da serpente que setores populares estão chocando ao se omitir, ou simplesmente apoiar o populismo penal em voga, responsável pelas práticas de seletivismo penal e de etiquetamento dos mais pobres. 

Esse modelo de segurança pública, hoje tão festejado pela direita e por setores da esquerda, é responsável pelo incremento dessa onda conservadora que construiu o golpe parlamentar no país e hoje avança sobre os direitos fundamentais das classes trabalhadoras. 

Portanto, considero inútil os discursos governamentais de combate à violência policial - confinados em nichos de poderes restritos - quando as práticas seletivas imperam na realidade e são reforçadas pelos discursos facistóides de ataque aos direitos humanos e de reforço do policiamento de extermínio.

Gerô deve ser o símbolo dessa reflexão - se quisermos salvar os outros gerôs, que tombam todos os dias, invisibilizados pela cruzada paranóica do punitivismo.

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