A passeata tomou conta de toda a Esplanada dos Ministérios. Cerca de 80 índios, em sua maioria da etnia Kayapó, se uniram à multidão de mais de 50 mil pessoas que se concentrou em frente ao Congresso Nacional, mostrando a cara dos vários Brasis contindos num único país, e demandando respeito e paz aos povos tradicionais do Brasil, além de fazer coro às demais pautas como corrupção, violência, educação e saúde.
Pintados, enfeitados com cocares e portando burdunas, arcos e flechas, seus instrumentos de guerra, eles traziam cartazes que pediam a revogação de medidas legislativas como a PEC 215, o PL 1610 e a Portaria 303 da AGU, a demarcação de Terras Indígenas no Paraná e demais estados, e o cumprimeto da consulta prévia, prevista na Constituição Federal.
Quando os líderes Kayapó conseguiram chegar até o gramado do Congresso, eles cantaram e dançaram, e foram aplaudidos de pé pelos milhares de manifestantes, que gritavam em direção à sede do poder legislativo: “os índios nos representam, vocês não representam.” Mais cedo, o líder Kayapó Akiabôrô havia questionado os parlamentares: “Nós também votamos, temos título de eleitor. Mas onde estão esses representantes quando precisamos que nossos direitos sejam defendidos?”
Veja o depoimento de Sônia Guajajara durante a manifestação:

Crimes hoje e ontem
Antes da rumarem para a concentração da marcha, que teve início às 17h, as lideranças indígenas estiveram presentes em uma audiência na Câmara dos Deputados, que discutiu o Relatório Figueiredo, estudo da Comissão da Verdade que analisa as atrocidades cometidas a seus povos durante a ditadura militar.
Mais de vinte Kayapós, que compareceram para acompanhar a plenária, foram barrados na porta. Com esforço dos demais indígenas presentes, que ameaçaram suspender a sessão se não tivessem a presença dos demais, as lideranças conseguiram finalmente entrar.
Sônia Guajajara, liderança do Maranhão, lembrou que a Comissão volta o olhar para as violências cometidas contra os indígenas no passado, mas que a mesma truculência continua muito presente nos dias de hoje.
“É importante trazer de volta a memória dos fatos ocorridos em outra época, mas e os crimes de hoje? O governo não usa mais facão e bala, mas tenta legalizar o extermínio por meio de projetos de leis, portarias e emendas constitucionais. Falar de direitos humanos e indígenas no Brasil se tornou uma ofensa, uma ameaça à soberania nacional. Mas nós só reivindicamos o cumprimento da lei”, pressionou.