Um dia antes das eleições municipais, a cidade vive um clima de terror, com os ataques das facções criminosas. Não há mais dúvidas de que a situação de Pedrinhas novamente é a origem do problema.
Mais uma vez, os detentos de Pedrinhas escolhem o período eleitoral como o melhor momento para negociar com o Estado. A pauta não é extensa, mas histórica e crônica.
Pode até ser que a comunidade carcerária não tenha relacionado as eleições com o problema prisional do Estado, fazendo seus levantes justamente porque sabem da importância desse momento para a sociedade.
Mas é digno de nota a relação intrínseca que existe entre os nossos porões medievais e o sistema democrático. Iria mais adiante: a relação é mais intrínseca com o nosso modelo eleitoral, direcionado para perpetuar as elites no poder.
Por exemplo, é claro que existe uma relação indireta entre o debate da Mirante e os ataques nas ruas.Quando a classe política tangencia a reflexão sobre políticas públicas e personaliza a gestão como obra de salvadores da pátria não poderia resultar em algo diferente.
E não foi surpresa constatar que todos os que estavam ali têm algo em comum: são profundos desconhecedores do tema da segurança pública.
Prevalece de modo geral a compreensão de que segurança pública não é tarefa do município, quando não somente propalam o simples manejo da guarda municipal.
Trocando em miúdos, mesmo em pleno ataque de facções, a política local não consegue elaborar nada para contribuir com a resolução do problema, de maneira racional.
O único contraponto aos ataques é o discurso monolítico e criminalizador do próprio governo estadual, divulgado em notas ou em entrevistas do governador e do Secretário de Segurança.
As elites e suas representações políticas parecem aceitar comodamente tais argumentos de mera publicidade. É mais fácil e exige menos fosfato do cérebro.
Tem sido menos difícil pro governo organizar uma resposta aos ataques das facções do que elaborar uma narrativa coerente acerca da incapacidade de fazer diferente. Não adianta reclamar da influência política nos protestos, porque Pedrinhas sempre foi palanque dos demagogos que estão hoje no governo.
Os políticos da nova ordem chamaram Pedrinhas à arena pública. Eles agora fazem política, a seu modo: tentando desvelar a máscara esquelética do chamado Estado de Direito.
A propaganda publicitária governamental tentou nos convencer de que a situação estava resolvida e agora a realidade impôs a pior derrota política dos dois anos de governo.
A desorientação é grande porque o único recurso emergencial na conjuntura dos ataques é o viés repressivo e o discurso tresloucado, ambos em plena trajetória de falência cabal.
A versão com que se defende o governo da sua descoberta inércia ou incompetência é a da criminalização pura e simples de um protesto que traz no seu bojo não apenas reivindicações por algumas regalias, mas principalmente - e o que é mais perigoso - por direitos mínimos nas cadeias.
Alguém precisa dizer publicamente que existe uma diferença muito grande entre regalias e direitos fundamentais dos presos. Regalias ninguém é a favor mas direito nenhum gestor pode negar, na ordem jurídica em vigor. A forma como o governo elabora o discurso sobre o protesto dos presos inviabiliza o tratamento racional do tema e prolonga a conjuntura de terror.
As últimas reações soam como insistência demagógica em torno do que já se comprovou não surtir efeito. Não adianta mais fazer revistas de celas para impedir as ordens de ataques - eles já estão acontecendo nas ruas. E nem adianta transferir detentos para presídios federais. Os últimos efeitos das transferências foi a organização em escala supersônica do PCC no Estado.
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