terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

A tortura da ROTAM e a lógica da guerra prestigiada


Repercutiu muito pouco na mídia, mas já era de se esperar.

Um homem de 28 anos foi barbaramente torturado por policiais militares da Ronda Ostensiva Tático Móvel (ROTAM) na quinta-feira (12), em um matagal próximo ao quartel do Comando Geral da PM.

O irmão da vítima já comunicou o fato ao 2º Distrito Policial do Bairro do João Paulo, à Comissão de Direitos Humanos da OAB, à Sociedade Maranhense de Direitos Humanos, à Defensoria Pública do Maranhão e à Supervisão de Investigações de Crimes Funcionais (Sicrif).

A tortura teria durado cerca de 1 hora e teria sido praticada por oito policiais. A vítima foi confundida com um assassino de policiais em São Luís.

A abordagem ocorreu no bairro Areinha, quando a vítima, que é entregador de pizzas, voltava para casa, após o trabalho. Os policiais o revistaram e não encontraram nada, mas um dos policiais o teria confundido com outra pessoa.

Os policiais usaram o spray de pimenta nos olhos dele e o arrastaram para dentro da viatura dizendo que era seu dia,  conforme relatou a vítima. Duas viaturas participaram do crime, configurado por diversas violências físicas, tais como socos, pontapés, chicotadas, cortes de faca e tiros. Os detalhes estão no site do G1.


Homem mostra o braço que teria sido quebrado
durante tortura (Foto: G1)

A vítima ainda foi baleada na perna depois da sessão de tortura. Na fuga, ele teria esbarrado em um homem que passava pelo calçadão e, na sequência, acabou socorrido por outra viatura da PM que passava pelo local. 

Ele foi levado para o Hospital Djalma Marques (Socorrão I), no Centro, e depois encaminhado para o Clementino Moura (Socorrão II), na Cidade Operária. 

O comandante da Rotam, Major Sodré, confirmou a denúncia ao G1 e destacou que os policiais envolvidos no caso foram identificados e afastados do serviço de rua até o fim das investigações.

A Secretaria de Segurança Pública se manifestou em nota:

                                                                      "NOTA
A Secretaria de Estado de Segurança Pública (SSP) informa que foi aberto inquérito pelo Comando Geral da Polícia Militar para investigação do caso. Os quatro policiais já foram identificados e ouvidos. Todos os policiais tiveram as armas recolhidas para perícia e estão afastados dos serviços de Rua da Ronda Ostensiva Tático Móvel (ROTAM) até que seja concluída a apuração total do caso."

Para a mídia convencional o episódio se encerra aqui, sem nenhuma reflexão de fundo. O destino da vítima não interessa e o desfecho dos procedimentos de responsabilização dos policiais também não.

E novas ondas de clamor pelo extermínio, sob o lema "bandido bom é bandido morto" se reproduzirão impunemente nos meios de comunicação.

Ninguém discute por qual razão OITO PMs se envolveram em uma tentativa de extermínio de um suposto "assassino de policiais". Ninguém sequer desconfia por qual razão chegaram a tanto. Se os oito se ferrarem, fica como se a culpa fosse unicamente deles.  

O funcionamento do sistema de segurança como um todo fica absolvido, enquanto oito são imolados no altar da hipocrisia. E certamente esses não terão o benefício da Medida Provisória 185, assim como muitos outros.

Esses episódios, constantes e permanentes, não são suficientes para provocar um debate na sociedade sobre a necessidade de reformulação. Nenhum operador do sistema de segurança, muito menos OITO, em duas viaturas, faria tal barbaridade se não estivesse legitimados por uma lógica própria, abençoada por vários mecanismos de coesão interna e muitos discursos externos de incentivo.

O único erros desses oito PMs já está dito pela lógica da guerra: pegaram alguém que se relaciona com outros extratos sociais, muito embora fosse um simples entregador de pizza. Coisas de província, que podem furar o seletivismo penal.

Ps: OITO em caixa alta, porque a nota da SSP somente fala em QUATRO.

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