sábado, 11 de junho de 2016

A frente única de resistência da classe trabalhadora


Cansei de ouvir que um dos maiores desafios da esquerda no Brasil é a unidade.

Acredito que é inútil esperar por ela, diante de diferenças de pensamento tão grandes. A começar pela própria noção de democracia e a função eleitoral dentro dos sistemas democráticos.

De resto, será sempre difícil compor um campo eleitoral com partidos que rejeitam a chamada democracia "burguesa" e convivem contraditória e esquizofrenicamente com ela.

O processo de impeachment aprofundou essa divisão, introduzindo mais nuances para divergências sem sentido profundo para a classe trabalhadora e o eleitorado de esquerda.

No auge da crise, o PSTU colocou como política fundamental o “Fora Todos e Eleições Gerais”, mesmo que a consigna termine sendo funcional tanto para as alas da direita que defendem o impeachment, quanto para as que defendem a cassação da chapa Dilma-Temer, via TSE, e antecipação das eleições.

O processo de mobilização de onde fala esse controverso campo político também cindiu-se: de um lado, a CSP-Conlutas, no "Espaço Unidade de Ação", liderada pelo PSTU e movimentos alinhados; Frente Povo Sem Medo, liderada pelo MTST e setores hegemônicos do PSOL, incluindo Insurgência e MRT. Do outro lado desse campo, a Frente Brasil Popular, reunido os movimentos sociais governistas, tais como a CUT, UNE, CTB e MST, além dos partidos de sustentação do governo Dilma (PT e PCdoB).

O PCB, posteriormente, aderiu à Frente Povo Sem Medo.

O PSTU e as tendências internas do PSOL, MES e CST continuam basicamente reproduzindo a mesma análise, desconhecendo a questão da correlação de forças e reforçando a Operação Lava Jato.

Para nós, a política do Fora Todos é uma fórmula funcional à direita da FIESP, do partido Judiciário e da Rede Globo. As eleições gerais, por outro lado, dão legitimidade ao golpe, na medida em que institucionalizam a ruptura do mandato presidencial. Não é por acaso que o Movimento Brasil Livre (MBL) de Kim Kataguiri, aplaude o PSTU, cada dia mais efusivamente.

Não existe hoje nenhuma mobilização independente e de massas da classe trabalhadora para tirar o governo do PT pela esquerda, justificando o Fora Todos, como primeiro ato de uma irrealizável insurreição geral. A greve geral, retórica persistente de um determinado ideário trotkista mecanicista, também faz parte deste receituário simplista e ingênuo. Eleições, nesse momento preciso de franco avanço da direita seria um desastre irreparável.

É uma aventura lançar a política de “Fora Todos” em um momento em que a correlação de forças está marcada por atos dirigidos pela direita, que lidera amplamente a mídia, a classe média alta das grandes cidades e o próprio sistema de justiça. Até hoje as pesquisas indicam o amplo apoio ao impeachment e sequer a maioria da população compreende bem porque Dilma Roussef caiu.

A classe trabalhadora de modo geral não foi para as manifestações do Fora Todos, atos que se restringiram a um punhado de militantes, vide o primeiro de abril.

A tarefa de frente única contra o golpe busca reforçar a resistência contra a onda conservadora, colocando a classe trabalhadora contra a direita e não a serviço dela. A experiência das Frentes não pode ser interpretada como primeiro passo para coligações eleitorais sob pena de confundirmos movimentos sociais de massa com partidos políticos. O divisionismo sectário confunde as duas coisas.

As Frentes apenas dão unidade pontual à resistência e pretendem impulsionar os movimentos de rua contra o governo Temer, mesmo que sob consignas diferentes (a FPSM/democracia; FBP/volta Dilma), reunindo os setores mais avançados da classe trabalhadora.

Não compreender a complexidade desse momento histórico, inclusive de disputa real da base social da esquerda e do eleitorado progressista, é cavar o próprio isolamento.

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