domingo, 28 de fevereiro de 2016

Vídeo recoloca a questão do assédio moral no treinamento das forças policiais



A influência histórica que as forças policiais militares receberam das Forças Armadas é uma realidade.

Ela se manifesta de diferentes maneiras. Uma delas está no treinamento militarista, voltado para a guerra. Ocorre que o treinamento de guerra visa eliminar fisicamente o inimigo. E existe uma diferença grande entre uma situação de guerra e uma situação de repressão ao crime ou uma situação de contenção de distúrbios.

Mesmo que isso seja de difícil compreensão para o senso comum do povo, até a pessoa que comete crimes ainda tem alguns direitos, que precisam ser respeitados pelas forças policiais, a bem da segurança jurídica e das garantias individuais dos cidadãos.

O combate bélico não é apenas inadequado para as forças policiais, como forma de abordagem. Ele está na base dos altos índices de letalidade e de tortura produzidos pelas polícias no Brasil.

Dentro das corporações, predomina uma crença de que o treinamento baseado em violência física, psicológica, e até moral, é necessário para condicionar o corpo e a mente dos soldados para situações limite.

E esse tipo de treinamento - dentro de um círculo cada vez mais elitizado chamado de "caveiras" ou de operações especiais - reforça o abismo existente entre a sociedade e as polícias, colocando em último plano valores como o do diálogo, o da mediação e o da relação com a comunidade, para solução dos problemas.

O problema é que o treinamento violento ensina o policial a ser violento. E a violência está acima da lei, quando regulada apenas pela hierarquia.

Esse vídeo, embora justificado pelo comando da PM, é apenas o retrato de um treinamento que poderia alcançar os mesmos fins, se executado de outra forma.

Mas está evidente que o foco principal não é adaptar o soldado para situações onde o spray de pimenta esteja presente. É muito mais criar o ambiente de desespero para produzir a violência psicológica dentro da disciplina hierárquica, cujo valor principal é a obediência cega pela humilhação e o assédio moral.

Se fosse apenas para adaptar o soldado ao spray, tudo isso poderia ser alcançado gradualmente num outro ambiente, com muito maior respeito à saúde e à dignidade do profissional da PM.

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