terça-feira, 16 de outubro de 2012

História e realidade


Esse texto serve para retratar com fidelidade máxima as contradições existentes no seio da chamada oposição oligárquica (que seria mais apropriado dizer oposição anti-Sarney) do Maranhão. Não por acaso, foi publicado no Jornal Pequeno, periódico Castelista renitente. A eleição para Senador, em 2010, abriu feridas que, longe de cicatrizarem, evoluíram para a gangrena.   O detalhe menos auspicioso é que frações oriundas do próprio seio da oligarquia buscam acomodação agora nos partidos do antigo e saudoso campo democrático-popular (hoje desprovido de referências ideológicas e tateando no escuro em busca de líderes), agravando a complexidade do cenário político. No rebotalho de partidos, engalfinham-se à cata de novos domínios, sem vergonha de suas próprias contradições. Não se trata de uma nova direita, em processo de reciclagem, mas uma nova forma de disputa, pelo controle do Estado, acionando outros signos, em nome   de um discurso mudancista, até os limites dos interesses de classes que os fazem convergir, para além do momento eleitoral. O artigo abaixo foi publicado em:

 http://www.jornalpequeno.com.br/2012/7/8/historia-e-realidade-203217.htm 


Por: José Reinaldo Tavares Data de Publicação: 8 de julho de 2012 às 12:07
O senador Vitorino Freire era um homem muito espirituoso e inteligente. Quando ele via uma coisa completamente fora do lugar ele dizia: “Jabuti não sobe em árvore. Se você encontrar algum num galho de árvore ou é enchente ou mão de gente”.
Ultimamente eu tenho encontrado muito jabuti instalado em galhos, alguns até bem altos. O primeiro deles na eleição para senador em 2010 quando, de uma hora para outra, um “oposicionista” se lança sem nenhuma discussão com a oposição, candidato a senador. Sabia que não teria chances de eleição, mas se lançou numa boa e o resultado, previsível, foi tirar a oportunidade de a oposição eleger um senador, muito importante para o equilíbrio de poder no estado e ter oportunidade de fazer um contraponto na esfera federal. O inesperado lançamento tinha o objetivo primordial de evitar que eu fosse eleito, prioridade número um para José Sarney e o grupo dominante. Mesmo recebendo apelos de toda a oposição o oposicionista se manteve irredutível e, assim, mesmo eu sendo o mais votado, fiquei atrás de ambos os candidatos do governo que lançou somente dois, como era racional. Sarney vibrou com o desfecho e com o sucesso de sua trama.
Depois disso, após várias tentativas de conseguir o domínio do PSB o mais aguerrido partido da oposição, todas elas rechaçadas no voto, eis que ocorre um fato inusitado. O presidente de um grande partido nacional, muito forte no estado, renuncia a presidência desse partido e vem para o PSB para ser candidato a prefeito de São Luís, sem receber convite de ninguém do estado ou do município, em uma operação que contou com a esperteza e o senso de oportunidade de, sempre ele, senador José Sarney.
Eu e muitos outros sabemos como foi que aconteceu isso, mas não contarei no momento. Ali o senador do Amapá lançava a semente para finalmente tomar o partido no tapetão. Domina o tapetão como ninguém... A candidatura, sabíamos que não ia vingar, devido a grande rejeição do personagem. Não passou de 2%. Mas o plano seguiu em frente.
Como tentou levar o partido sem discussão nem votação para apoiar um candidato, quando o presidente do partido tinha aceitado ser candidato a vice de Castelo e, portanto, a decisão seria pelo voto como é (era) sempre no partido. Como sabiam que a derrota era certa usaram todo tipo de jogada algumas indecorosas para evitar a votação para que ele, presidindo a comissão municipal do partido pudesse decidir ao seu bel-prazer. Prometeu que mandaria as duas propostas de coligação para decisão do partido nacionalmente. Mas não fez nada disso e só mandou a que lhe interessava diretamente. Para garantir o envio da tendência majoritária do partido a executiva Estadual teve que intervir momentaneamente na Executiva Municipal, destitui-la e nomear outra em seu lugar com o único intuito de garantir que a nacional soubesse e decidisse sobre as duas propostas de coligação.
Estivemos na segunda-feira, demoradamente com o governador Eduardo Campos, presidente nacional do partido, onde tivemos uma conversa muito amistosa sobre o Maranhão. Só para ter ideia de como foi a conversa ele nos disse que era um erro afastar Castelo da oposição e que ele tinha boa chance de ganhar. Disse que não devíamos brigar internamente na oposição porque isso dividiria a oposição em 2014 na luta contra a família e que ia procurar falar com o Flávio Dino que já o procurara, mas ele ainda não o tinha recebido.
No dia seguinte Flávio foi levado pelo presidente da Assembleia de Pernambuco ao gabinete do governador onde teve uma conversa com ele. Flávio até pode tê-lo convencido dos seus motivos, mas tenho certeza que dele não partiu nenhuma agressão contra nós, como a destituição de toda a executiva estadual do partido no Maranhão. Ela veio de outra direção, a de sempre.
Em socorro ao seu amigo, e instado por ele, o senador ligou para Lula e pediu a interferência dele para que o partido decidisse pelo seu amigo e nomeasse outra executiva estadual, destituindo a nossa, eleita no voto, pois nós estávamos impedindo que o partido fosse para a base do governo e nós queríamos leva-lo para o PSDB, adversário de Lula. O senador sabia que o Eduardo havia tomado medidas fortes contra o PT em Recife e em Belo Horizonte onde lançou candidatos contra a vontade do PT.
Como não era objetivo de Eduardo se atritar mais ainda com Lula ele certamente atenderia, no caso, qualquer coisa que este lhe pedisse, principalmente em um estado periférico como o nosso.
Essa é a história real, como aconteceu. O resto é conversa para boi dormir.
Te cuida, Edivaldo, esse fardo é muito pesado para você. Deveria ter levado o PSB e escolhido outro vice. Era melhor, pois, assim, fica parecendo que você é mais um sob as asas do senador, embora eu saiba que não.

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