quinta-feira, 30 de abril de 2009

Artigo de Arlete Santos Borges

Comento: quem critica publicamente a oligarquia Sarney corre o riso de levar patadas injustificáveis dos blogueiros de plantão. A pressa em defender a visão de um grupo de petistas doidivanas os faz cometer injustiças.Arlete foi uma entusiasta defensora da candidatura de Flávio Dino, na última eleição municipal. E esse mesmo grupo (que não foi pro governo Roseana porque simplesmente teme ser derrotado no PED) apoiava a candidatura de Flávio. O baixo nível das ofensas contraria o alto nível do artigo, que, como desagravo, apresento:


MARANHÃO VELHO DE ESPERAS
Por: Arleth Borges
25 de abril de 2009 às 07:27
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Definitivamente, o quadro político do Maranhão não é dos mais animadores. E não é só para as personalidades ou grupos apeados do governo, também para os que foram nele entronizados no mesmo por força de ordens judiciais a situação não é de alegria genuína, pois são patentes e cada vez mais generalizadas as dúvidas e questionamentos quanto à legitimidade dessa ascensão.

Da parte do governador Jackson Lago e de anti-sarneystas de todos os matizes a promessa de resistência ao que denominam de usurpação da vontade popular tem sido atravessada pela frustração do desejo há muito acalentado e reivindicado de que houvesse no Maranhão mudança de políticos, assim como dos métodos e prioridades por estes adotados. O sentimento desde 2006 era de que o governador Jackson Lago encarnaria e realizaria esse propósito. Mas veio a queda, "a noite esfriou, o riso não veio, não veio a utopia..." e tudo ficou no mesmo: além da cassação, Jackson Lago, como um general de exército até destemido, mas pequeno (apesar do brilho reluzente do MST), dramatizou um desfecho de batalha para além da conta, anunciando resistências que não tinha condições de bancar, ainda mais porque a verdadeira batalha já não se desenrolava no palácio dos Leões e muito menos na praça pública. Antes disso, a interpretação - e posteriormente o inventário - da administração Lago já era causa de melancolia. Não que os sarneystas tivessem razão em cobrar que, no segundo ano, um governador (de primeiro mandato) já tivesse realizado todas as suas principais obras: isso é um exagero, é natural que grandes obras estivessem inconclusas, como também é lícito que, enquanto estivesse no cargo, o governador tivesse plenos poderes. A frustração estava noutro lugar: nas críticas de dentro do próprio governo, que informavam "de fonte segura" que o processo decisório era por demais centralizado e em mãos que nem sempre eram as do governador; estava nas acusações contundentes de prejuízos ao erário em proveito de particulares cada vez mais ávidos; estava nas acusações de descaso do poder público face às denúncias de corrupção surgidas neste curto período e muitas vezes refutadas apenas com o jargão de que "quem fez isso por 40 anos não tem direito ou moral para reclamar".

E agora? A atual governadora, apesar de todos os vícios de origem, tem meios para impor mais duras perdas aos oposicionistas, pois será ela quem vai inaugurar as obras de grande porte já iniciadas pelo ex-governador; ela tem meios para ampliar o apoio do governo federal a obras no Maranhão (basta ver no seu discurso de posse que todas as propostas de maior impacto são ancoradas nessa parceria), e, sobretudo, a governadora recém-empossada tem suportes midiáticos para repercutir a sua interpretação tanto sobre o legado do governador Jackson Lago, quanto a propaganda do seu próprio governo.

No plano político e eleitoral, os desafios colocados para os oposicionistas são grandes. Politicamente falando, 2010 ainda está longe, mas, com a perda da máquina administrativa estadual e a opção preferencial de Lula pela família Sarney, os sinais são de dificuldades para a reedição de frentes eleitorais como a de 2006, que naquela conjuntura teve papel decisivo. E junto com isso vem a possibilidade, nada remota, de fragmentação, até pela incógnita (e ainda mais pelas disputas) acerca de quem poderia liderar um viável e convincente projeto de unidade. Nesse sentido, a lógica plebiscitária sarneystas vs oposicionistas, pode até continuar tendo efeitos mobilizadores, mas, seguramente, já não é suficiente.

A complexidade da situação se agrava com a dificuldade cada, vez maior, de se discernirem os dois campos, antes, divididos romanticamente como cristalinos. As contribuições recentes dos oposicionistas para este embaçamento não são irrelevantes e podem ser identificadas tanto nos supostos atos de improbidade e patrimonialismo denunciados durante o governo Lago, como na ida apressada de ex-petistas e pedetistas para as hostes sarneystas - mas, sobre isso se pode pensar, com razão, que não foram os lados que ficaram difusos, mas estes personagens é que assumiram de modo mais claro as suas posições. Paradoxalmente, em socorro à oposição, vem o governo de Roseana, com alguns secretários e secretária que, francamente, só no velho Maranhão.

A questão central, porém, é que independente desses dois, ou mais, lados, os maranhenses continuam à espera de ações mais contundentes de melhoria das suas condições de vida. É lastimável o quadro de falta de saúde, a insegurança pública e o abandono de grandes contingentes de pobres nos grotões ou nas periferias das grandes cidades; é deplorável o desvio impune de recursos públicos até mesmo nos municípios mais pobres. O legado dos 40 anos do grupo Sarney já é conhecido: com tanto tempo e privilegiados acessos a recursos, não foram capazes ou interessados em oferecer ao estado condições minimamente aceitáveis em termos de indicadores sociais e até político, afinal, o clientelismo, que para os ricos é um privilégio, para os pobres ainda é sinônimo de cabresto eleitoral. A promessa oposicionistade 2006, mesmo não sendo muito ambiciosa, foi abortada por complicações externas e internas e, enquanto passam os governantes, o Maranhão continua "passando", mas agora na TV, maquiado e cheio de palavras que afetam riqueza cultural e natureza exuberante, mas passando indiferente ao seu povo, que em sua maioria permanece em situação de miséria.

Arleth Santos Borges é Doutora em Ciência Política, professora de Sociologia e Antropologia da Ufma e escreve para o Jornal Pequeno

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